SAFs são consideradas um modelo revolucionário para clubes brasileiros

O papel dos clubes como acionistas das Sociedades Anônimas do Futebol (SAFs) foi um dos temas abordados durante a segunda edição do Fórum SAF. O evento aconteceu nesta quarta-feira (3), no Renaissance Work Center, na Savassi, região Centro-Sul de Belo Horizonte.
O encontro contou com a participação de especialistas, incluindo dirigentes de clubes e jornalistas, para discutir os avanços e as controvérsias desse modelo, além do atual momento do futebol e dos times brasileiros.
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O diretor administrativo do Fortaleza Esporte Clube, Arthur Lídio, destacou o modelo adotado pelo clube cearense com o time como acionista majoritário da SAF, inspirado em exemplos famosos como o do Bayern de Munique, em que a associação possui maior representatividade dentro do clube.
O dirigente falou ainda sobre a importância de comunicar e explicar aos torcedores e a imprensa o que está sendo realizado. Para Lídio, esse tipo de ação evita ruídos a respeito da gestão.
Já o advogado e coautor do texto da Lei 14.193/2021, que implementou a SAF no Brasil, Francisco Manssur, aponta que os clubes têm o dever de realizar uma auditoria a respeito dos investidores.
“Da mesma forma que o investidor vem ao Brasil, entra na sede do clube e acessa os documentos, o clube tem a obrigação de ir à sede do investidor e fazer uma auditoria profunda para conhecer o patrimônio dessa pessoa e se ele já possui um histórico no futebol”, pontua.
Manssur também define o modelo SAF como uma revolução positiva para o futebol brasileiro. Ele ainda afirma que o número de clubes que passaram a adotar esse modelo está acima do que era previsto na época em que o texto estava sendo elaborado.
“Nós temos muito mais SAFs do que o que nós achávamos que teríamos hoje. Isso, com certeza, é um movimento que foi muito mais profundo e eu acho que ela é uma revolução no futebol brasileiro”, declara.
Além disso, o advogado avalia a relevância que Minas Gerais possui nesse tema, uma vez que o relator do projeto foi o atual senador Rodrigo Pacheco (PSD) e um dos primeiros grandes clubes do futebol a adotar esse modelo foi o Cruzeiro Esporte Clube, com o anuncio da compra por parte do ex-jogador Ronaldo Fenômeno.
Mudança na maneira de gerir os clubes
O coordenador do evento e vice-presidente do Conselho Deliberativo do América Futebol Clube, Paulo Lasmar, lembra que, ao longo de muitos anos, o futebol foi gerido de forma amadora e movido à cultura do “ganhar títulos a qualquer custo”.
Esse cenário acabou levando muitos clubes a enfrentar problemas financeiros, tornando a Lei das SAFs a grande salvação dessas entidades.
“Chegou a tal ponto que a Lei da SAF teve que sair da gaveta e tocada com urgência no Congresso Nacional para salvar os clubes que estavam em bancarrota e não tinham mais condições de sobreviver mais um ou dois meses”, relata.
Para Lasmar, o fato de essa lei ter sido desenvolvida a toque de caixa, sem muito debate, fez com que ela necessitasse de alguns ajustes nos anos posteriores. O vice-diretor das categorias de base da SAF Botafogo, Diego Mello, ressalta que o texto já está todo alterado, três anos depois.
Mello também explica que a partir do processo de implementação da SAF, o clube passa a adotar um novo papel, dessa vez, de sócio no negócio. “Isso por si só já vai trazer uma serie de mudanças de rotinas, procedimentos e até de conhecimento dos profissionais responsáveis pela gestão dessa organização esportiva”, aponta.
Ele cita o exemplo do Vasco da Gama em que o time e a associação têm direito a royalties nas vendas de camisas e de demais produtos ligados a marca do clube e comercializados pela SAF. “Isso é algo bem negociável, mas também precisa ser bem negociado”, completa.
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