O Brasil e seus infatigáveis golpistas

“Em três décadas cobrindo o Congresso Nacional, nunca vi cena dessas” (Jornalista Gerson Camarotti).

Os golpistas não esmorecem em seus pérfidos desígnios. Infatigáveis, fazem tudo que podem no sentido de solapar nossas instituições democráticas. Agridem de forma desvairada os encarregados de protegê-las. Contam em suas manifestas intenções, por razões que roçam as franjas da paranoia, com o conluio de um governante estrangeiro obcecado pela volúpia do poder. Procuram, com esse procedimento, disseminar falsidades sem conta e desacreditar, perante os olhares externos, o fecundo trabalho da Nação brasileira em prol do desenvolvimento econômico-social e evolução política.

No deplorável caso da insidiosa campanha promovida contra seu próprio país pelo deputado federal licenciado “por motivo de saúde”, causa perplexidade observar a inércia do Congresso (que chega a rescender a conivência) em chamá-lo energicamente às falas, aplicando-lhe punição equivalente à gravidade dos indesculpáveis delitos continuamente cometidos.

A perplexidade aumenta quando se fica sabendo que chegou a ser cogitada, por sua agremiação partidária, a apresentação de projeto de lei que permitiria o exercício do múnus parlamentar a partir de base domiciliar no exterior, Santo Deus! Releva ainda notar a inacreditável arruaça provocada, no sagrado recinto do Congresso, por colegas do indigitado autor dos desabridos ataques contra o Brasil, os poderes legitimamente constituídos e nossa gente. Com o inqualificável ato, nunca dantes registrado, pretendeu-se transmitir a impressão de que os arruaceiros estavam se valendo da faculdade regimental da obstrução parlamentar. Encarando o fato de forma extremamente benevolente para com os insurretos, poder-se-ia até chegar à admissão de que aquela incrível cena da mãe com rebento no colo, imperturbavelmente sentada na poltrona da presidência da Câmara dos Deputados (“Daqui não saio, daqui ninguém me tira”), não passou de comovente demonstração de amor e proteção maternal, digna de ser imitada por aí a fora…

E o que não dizer dos “edificantes diálogos” entre Bolsonaro pai, Bolsonaro filho e pastor Malafaia? Bronca e palavreado típicos de “buteco copo sujo” à parte, a tagarelice do trio comprovou a mediocridade intelectual e a indigência emocional dos implicados na intentona que se acerca do desfecho. A desordem no campo das ideias e a precariedade de argumentação da turma sediciosa estão fartamente documentadas nas páginas do inquérito sob julgamento. As provas colhidas, as gravações reunidas, as oitivas levadas a cabo, tudo isso deixa à mostra com clareza solar o primitivismo político dos golpistas processados, sua estrábica interpretação da realidade democrática e a completa ausência de consciência social.