Artigo

A cadeirada e a dança das cadeiras na disputa eleitoral de São Paulo

Episódio entre os candidatos José Luiz Datena e Pablo Marçal ganhou as redes sociais
A cadeirada e a dança das cadeiras na disputa eleitoral de São Paulo
Crédito: TV cultura/via FotoPublicas

Diante da sociedade do espetáculo e do mundo da pós-verdade, que vivemos, depois do choque inicial com a cadeirada que o candidato José Luiz Datena deu no também candidato Pablo Marçal, me perguntei se Datena tinha finalmente aprendido a fazer marketing digital nesses tempos de lacração. Ele criou o meme da noite, da semana, e da eleição.

Sua imagem dando cadeirada no opositor gerou todo tipo de insulto e de ilação, e bombou em menções. Ele conseguiu uma atenção esmagadora nas redes sociais, além de oferecer o mesmo destaque ao agredido. Este sim, desejava levar uma cacetada para ganhar as visualizações que tem perdido na propaganda gratuita de rádio e TV.

Não tenho pretensão de ser psiquiatra do Datena, nem fazer diagnóstico do seu estado clínico. Vou apontar algumas observações sobre seu comportamento público e pretendo fazê-lo com muito mais respeito que palpiteiros e haters. Em entrevista a um canal no Youtube, Datena falou da riqueza da experiência andando pelas ruas, em contato com o povão, sempre sofrido e ludibriado pelos salvadores da vez.

A entrevistadora, delicadamente, observou que ele estava falando em tom de despedida. Em lágrimas, respondeu que estava fazendo de tudo, mas não convencia as pessoas a votarem nele. Abandonou a entrevista chorando. Em outro debate, diante de mais insultos do influencer Pablo Marçal, já tinha esboçado a vontade de agredi-lo, parando no último momento. Dessa vez, Pablo Marçal debochou e falou que não tinha sido homem de completar sua intenção. Então lá veio a cadeirada.

Datena está aparentemente com dificuldade de regulação emocional, com essas explosões estranhas para um comunicador tão experiente em embates. Junta a sua carga de estresse, já muito alta, a dúvida sobre sua entrada na política. Talvez exista o medo de se expor a esse tipo de ataque frequente na selva digital.

Pablo Marçal o chamou de milionário que nada faz pelo povo, mencionou que foi acusado de assédio e calou sua acusadora com dinheiro, e achincalhou sua hombridade. Em psiquiatria, o acting out é quando se passa ao ato, sem a intervenção do nosso cérebro racional. Datena passou ao ato. Não o fez de forma deliberada, acho eu.

No Youtube, a pesquisadora Molly Crockett explicou sobre porque o cérebro adora a indignação, ultraje e a sensação de punição das ‘pessoas más’. Áreas do cérebro ligadas ao prazer e à recompensa são ativadas quando alguém é punido por seus malfeitos. Garanto que essas áreas do cérebro do público ficaram acendendo de prazer ao rever aquela cena: “Você não foi nem homem para me bater…” Pumba! Agora foi…

A agressão física e a passagem ao ato caracterizam um sinal de disfunção e de doença quando efetivada. Ela é caracterizada como uma contravenção penal. Mas a política de canalização do ódio, de moagem de biografias e de lacração baseada em notícias falsas são também criminosas e mais difíceis de caracterizar e punir.

O terrorismo da política da lacração, do insulto e da maledicência digital pode ser enfrentado, e está sendo combatido com bom jornalismo e diante do ridículo, com o deboche. Se você cair na cilada de se indignar e tentar mostrar o absurdo que está sendo dito, perdeu. Se der uma cadeirada, a democracia perdeu. E perdemos juntos.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas