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‘Caso Marielle abriu nova janela para o combate ao crime organizado’

A fala do Ministro Gilmar Mendes, do STF, resume a história tenebrosa ainda a ser contada
‘Caso Marielle abriu nova janela para o combate ao crime organizado’
Crédito: Divulgação/ASCOM

“O caso Marielle abriu nova janela para o combate ao crime organizado.” (Ministro Gilmar Mendes, do STF)

A esperança dos democratas e dos amantes da paz é de que o deslindamento do chamado “Caso Marielle” represente prólogo e não epílogo de uma questão relevante para o bem estar coletivo. Explicando melhor: as investigações da eficiente Polícia Federal, que tomou a si a incumbência de desvendar o mistério que rodeava o infame atentado, desnudaram pacto sinistro existente na “mui” leal e heroica cidade de São Sebastião do Rio de Janeiro e adjacências. Para uma opinião pública aturdida e indignada, ficou sobejamente documentada a escabrosa aliança entre políticos poderosos e inescrupulosos, milicianos virulentos e a banda podre da polícia.

A desagregadora e desembaraçada movimentação dessas forças espúrias nas engrenagens administrativas e da segurança pública produziu um cortejo interminável de desatinos. Tais desatinos fizeram os habitantes do Rio de Janeiro se sentirem constrangidos em poder alardear sua invejável condição de “Cidade Maravilhosa”.

Recapitulando os fatos: seis anos atrás, Marielle Franco e seu motorista, Andersom Gomes, voltando de um evento comunitário, onde se discutiam temas ligados à inclusão social, foram fuzilados com tiros disparados de um carro que se emparelhou com o veículo da vereadora. Uma assessora que a acompanhava nada sofreu, além do trauma de ver seus companheiros assassinados. Como se comprovou mais tarde, as câmeras do local onde ocorreu a execução estavam estranhamente desligadas. A comoção provocada pelo crime somada à marcha morosa das apurações deu origem a uma pergunta que ecoou longe, volta e meia ocupando noticiário: “Quem matou Marielle?”

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Algum tempo passado, chegou-se ao bandido que disparou os tiros e ao seu comparsa. Houve um espanto muito grande quando se soube que o atirador ex-policial, miliciano, vivendo aparentemente de soldo como inativo da PM, residia numa mansão suntuosa em condomínio de alto luxo na Barra da Tijuca, possuindo numa de suas propriedades um arsenal de fuzis e metralhadoras de modelo avançado, armamento esse obviamente confiscado. A princípio, ele se recusou a revelar nomes dos mandantes e os “motivos” da execução. Nessa ocasião, surgiu outra pergunta que não quis calar: “Quem mandou matar Marielle?” A resposta a essa indagação custou muito a ser dada e a demora deu margem a muitas especulações. Quando da mudança de governo, houve a promessa formal do então ministro da Justiça, Flávio Dino, de encarregar a Polícia Federal da investigação e apontar os culpados. A partir das diligências efetivadas no âmbito federal, o processo ganhou ritmo mais célere.

Agora, finalmente após a disposição do matador miliciano, Ronnie Lessa, de contar tudo que sabe, a essa circunstância se agregando outras esmagadoras provas, inclusive “queima de arquivos”, a reposta sobre quem mandou matar Marielle acaba de ser formalmente dada. Os mandantes apontados e já detidos são o deputado federal Francisco Brazão, seu irmão Domingos Brazão, conselheiro do Tribunal de Contas do RJ e – esticando o pasmo ao máximo limite – até outro dia chefe da Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro, Rivaldo Barbosa. Segundo a acusação, os três articularam os detalhes do esquema do bárbaro assassinato. A “motivação” teria sido a ferrenha oposição oferecida pela combativa parlamentar às investidas vorazes da milícia em valiosas áreas urbanas. A promíscua relação de políticos, milicianos e policiais, pelo que já foi revelado – e com muitas coisas chocantes a virem ainda à tona -, deu causa a homicídios que permanecem insolúveis e a muitos outros delitos graves que deixam moradores de regiões densamente povoadas à mercê dos assédios violentos do crime organizado.

Como já se disse, a elucidação do assassinato é prólogo de história tenebrosa a ser ainda contada.

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