Desaparecidos políticos: Beto nunca mais voltou

“Carlos Alberto de Freitas, Beto, você ia adorar estar aqui conosco…“ ( Dilma Rousseff, na posse como presidente)
Premiadíssimo, “Oscar” e o “Globo de Ouro” conquistados, “Ainda Estou Aqui” reavivou na memória coletiva o apavorante drama dos “desaparecidos políticos”. A arrebatante saga de Rubens Paiva, esposa Eunice e filhos, contada em livro do filho Marcelo, foi magistralmente transposta por Walter Salles para o cinema, tornando-se sucesso de crítica e público no mundo inteiro.
A lista dos “desaparecidos” relaciona cidadãos acusados de críticos ou adversários do regime ditatorial. Levados a centros de detenção clandestinos, foram submetidos a brutais interrogatórios e tortura. Dominados pela angústia, parentes, amigos, muitas pessoas movidas por solidariedade humana e compaixão empenharam-se, em vão, por largo espaço de tempo, em localizar o paradeiro de todos eles. Por parte das autoridades daquela época sombria, o que se obteve como resposta foi um “ensurdecedor silêncio” de tumba etrusca.
Homens e mulheres de todas as categorias sociais das áreas urbanas e rurais desapareceram subitamente em circunstâncias nunca explicadas do cenário em que cotidianamente se movimentavam.
Dia desses, na ALMG, familiares de 74 integrantes da funesta lista receberam do Estado certidão com pedido de perdão incluso, atestando que a morte de todos eles deu-se por conta de violência praticada por agentes públicos no trevoso período do autoritarismo.
Numa manhã dos anos 70, o sociólogo Carlos Alberto Soares de Freitas, Beto, 31 anos, caçula de 8 irmãos, filho de Jaime Martins de Freitas e Alice Soares de Freitas, ambos de saudosa memória, pediu a bênção aos pais, beijou-lhes carinhosamente a face, despediu-se por motivo de viagem ao Rio, com promessa de breve retorno. Beto, nunca mais foi visto!
No discurso que proferiu no dia de sua posse como a 1ª mulher a exercer a Presidência da República, Dilma Rousseff, dominada pela emoção, referiu-se afetuosamente a Carlos Alberto Soares de Freitas, lembrando os sonhos que acalentaram juntos no sentido da reconquista democrática, nos tempos em que se viram forçados a deixar a vida universitária para combater a ditadura.
As informações sobre o que teria acontecido com Beto, depois daquele dia em que se despediu dos pais para a viagem sem retorno, chegaram ao conhecimento dos parentes de forma fragmentada e inconsistente. Na busca desesperada por notícias que pudessem clarear a caminhada percorrida pelo jovem talentoso, líder universitário de forte carisma, familiares e amigos bateram em todas as portas do mundo oficial. Tudo embalde. A cada contato, uma frustração. Ninguém de nada sabia. Muitos, nas esferas do Poder, alegavam que iam procurar saber, para, pouco adiante registrar que o destino de Beto era incerto e não sabido. Cabe mais relato a respeito.
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