Isenção no Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil pode gerar efeitos colaterais

A proposta de isentar o Imposto de Renda para rendas de até R$ 5 mil mensais tem sido amplamente celebrada. Afinal, quem não gostaria de um alívio no bolso? No entanto, uma análise mais aprofundada revela que a medida pode se tornar uma armadilha fiscal, mascarada como benefício imediato, mas com consequências graves no médio e longo prazos.
O Brasil enfrenta um desequilíbrio fiscal alarmante. O governo gasta mais do que arrecada, acumulando um déficit que pressiona a economia e aumenta a dívida pública. Esse cenário cria incertezas e afasta o capital estrangeiro. Em 2024, por exemplo, o investimento estrangeiro nos Estados Unidos superou a soma das 12 economias seguintes, evidenciando o quanto a competitividade do Brasil precisa ser reforçada para atrair recursos.
A lógica de ajuste fiscal é clara: reduzir a arrecadação sem cortar despesas é como tentar encher um balde furado. O resultado é previsível — aumento da emissão de moeda, desvalorização do real frente ao dólar, inflação crescente e elevação das taxas de juros, o que encarece crédito e financiamentos. Essas consequências recaem, principalmente, sobre as famílias de baixa renda, que são mais vulneráveis às oscilações econômicas.
A inflação, frequentemente chamada de “imposto invisível”, corrói o poder de compra de forma silenciosa, afetando principalmente quem não possui ferramentas financeiras para se proteger. Enquanto os mais abastados podem recorrer a investimentos atrelados à inflação ou aplicações internacionais, os mais pobres sofrem diretamente com o aumento do custo de vida. Sem um entendimento profundo de como a inflação opera, essas famílias têm dificuldade em perceber os impactos imediatos, mas acabam sentindo o peso no longo prazo.
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Além disso, medidas como a isenção de IR podem ter um efeito colateral significativo no custo do crédito. Um exemplo prático é o impacto nos financiamentos imobiliários. Em um financiamento de R$ 400 mil, um aumento de 2% nos juros pode elevar a parcela em até R$ 500 mensais, consumindo todo o benefício da isenção do imposto. Dessa forma, a política acaba transferindo recursos das famílias mais vulneráveis para os setores mais privilegiados, agravando a desigualdade.
Por outro lado, a proposta de tributar rendas superiores a R$ 50 mil mensais, embora atraente sob a ótica da justiça tributária, também apresenta limitações. Muitos contribuintes com rendas altas têm acesso a mecanismos legais de diferimento fiscal, como o PGBL, ou utilizam estruturas empresariais e investimentos no exterior para reduzir sua carga tributária. Assim, o aumento das alíquotas pode não gerar a arrecadação esperada, uma vez que esses contribuintes adaptam suas estratégias fiscais.
O verdadeiro problema é que essas medidas não atacam a raiz do desequilíbrio fiscal. Enquanto os gastos públicos excessivos não forem controlados, a dívida pública continuará crescendo, pressionando a economia e reduzindo o poder de compra da população. Soluções estruturais são indispensáveis, incluindo revisão de despesas, combate à corrupção, reforma tributária e incentivos à geração de empregos.
Sem um ajuste fiscal sério, medidas como a isenção de IR podem parecer um alívio imediato, mas têm um custo elevado no médio prazo. Como disse Milton Friedman: “Inflação é como alcoolismo. Quando você começa, os bons efeitos surgem primeiro; os maus aparecem depois”.
O Brasil precisa repensar suas prioridades. A verdadeira justiça fiscal está em ações que promovam equilíbrio econômico, reduzam desigualdades e protejam o poder de compra de todos. Precisamos cobrar responsabilidade fiscal. Caso contrário, estaremos apenas adiando problemas maiores, que inevitavelmente recairão sobre a população.
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