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Mapa não é neutro: configuração cartográfica não é apenas um detalhe técnico

Iniciativa africana defende um mapa que represente melhor a realidade
Mapa não é neutro: configuração cartográfica não é apenas um detalhe técnico
Crédito: Reuters/Carlo Allegri

“É a desinformação mais duradoura do mundo” (jornalista nigeriana Moky Makura)

Retomamos o palpitante tema das “Mentiras Cartográficas”.

Conforme explicado atrás, os países africanos movimentam na atualidade campanha para corrigir graves distorções do mapa-múndi, detectadas não é de hoje. O modelo cartográfico que se pretende adotar é o “Equal Earth”, que representa os continentes do planeta em suas verdadeiras dimensões, tanto quanto possível. O atlas utilizado até aqui é o “Mercator”, mapa instituído no ano de 1569 para favorecer a navegação na Era dos Descobrimentos. No período citado, como sabido, foram estruturados os grandes domínios coloniais, sobretudo em terras d`Africa e América Latina. E, como tal, concedeu à Europa a primazia, alongada no tempo, de ser centro imperial do mundo. Concebido por Gerardus Mercator, matemático, geógrafo e cartógrafo flamengo, o “Mercator” mostra os países do hemisfério norte com superfície infinitamente superior à dos países equatoriais. Casos da África e a América do Sul, que aparecem de forma bastante comprimida. O contraste mais evidente diz respeito à Antártida. Na projeção tradicional, o referido território parece ser do tamanho da África, quando, na realidade, o continente africano é 14 vezes maior.

Instituições representativas do pensamento político da África, região tão esquecida nas estratégias econômicas globais, ressaltam que essa configuração cartográfica não é apenas um detalhe técnico. Estão cobertas de razão. Ela influencia percepções culturais, políticas e sociais.

“Um mapa pode parecer neutro, mas não é”, sustenta, com convicção fervorosa, Selma Malika Haddadi, vice-presidente da Comissão da União Africana. De outra parte, Moky Makura, que lidera o movimento “Corret the Map” (“corrija o mapa”), ratifica o conceito expendido por Selma Malika, classificando as projeções por tantos séculos erroneamente aceitas, como “A desinformação mais duradoura e devastadora do mundo”. Acrescenta: “é preciso mudar!”

A campanha que propõe a aceitação universal do novo modelo do mapa-múndi, com as eliminações das enormes distorções detectadas, conta com o respaldo de 55 nações. O Banco Mundial deu a conhecer sua adesão, esclarecendo que já utiliza os filtros “Equal Earth”. Anunciou vir promovendo a descontinuidade gradual do uso do “Mercator” em seus mapas on-line. O “Google Maps” admitiu que desde 2018 vem disponibilizando, na sua versão desktop, um mapa mundial em 3D substituindo à “Projeção de Mercator”, embora a opção permaneça para quem dela queira fazer uso.

Quanto à ONU, ela já foi certificada do esforço empreendido pelas Nações Africanas, colocando a questão na pauta de estudos dos órgãos geoespacial e o UN-GGMI, que devem se manifestar em breve, com seu tão aguardado parecer técnico. É preciso mesmo mudar.

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