Violência política nos debates eleitorais reflete uma democracia em crise?

Após o fim da ditadura militar brasileira e a instauração do regime da Constituição de 1988, a imaginação democrática seguiu um curso previsível. Em uma democracia, espera-se que cidadãos conscientes tomem decisões racionais a partir das opções partidárias e ideológicas disponíveis.
Assim, utilizando-se das liberdades constitucionais, os atores e forças políticas se apresentam ao eleitorado com suas ideias, programas e promessas. Nesse cenário, nada parece mais adequado para a cidadania do que debates abertos e televisionados, a fim de permitir uma escolha mais informada e consciente.
Com o tempo, consolidou-se a noção de que o processo democrático inclui os debates eleitorais na televisão. No entanto, sempre houve algo de peculiar nesse raciocínio. O palco dos debates televisivos frequentemente se transformou em um espaço para o emocionalismo e o sensacionalismo.
Embora raramente fossem decisivos para a vitória de uma candidatura, esses debates quase sempre foram vistos como um momento capaz de selar uma derrota. Ainda que os debates televisivos do início dos anos 1990 contivessem momentos de forte apelo emocional e até violência implícita, tais elementos eram, em certa medida, temperados por um resquício de “dignidade política”, ainda que de baixo nível.
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Claramente, o cenário atual é muito diferente. Se no passado havia grandes expectativas em relação à democracia e à Constituição de 1988, hoje tais ilusões parecem cada vez mais distantes. O contexto dos debates televisivos mudou profundamente.
As forças de extrema-direita estão em ascensão, sem vergonha ou receio. Essas forças operam com um emocionalismo irracional, inflamando o que há de pior no ser humano e adotando uma estratégia de destruição total. Elas se aproveitam das liberdades democráticas para sabotar a própria democracia.
Além disso, estamos diante de um contexto socioeconômico instável, um cansaço generalizado com as democracias liberais e o impacto crescente das redes sociais e da internet. Diante desse cenário, qualquer medida para aperfeiçoar e defender a democracia deve considerar a possibilidade de que a era dos debates televisionados, pelo menos no formato que conhecemos até hoje, possa ter chegado ao fim.
A violência política está se tornando a regra, e não mais a exceção.
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