Brasil dispensou 8 mil médicos

Tilden Santiago*
Impossível pensar e enfrentar o coronavírus no Brasil, sem recordar que 8 mil médicos cubanos que atendiam em áreas carentes do interior e das periferias foram devolvidos, “sem justificativa” à Ilha. Bolsonaro pressionou tanto que praticamente os expulsou do Brasil. Que benefício não poderiam estar prestando, hoje, em parceria com os valorosos e dedicados colegas médicos brasileiros.
Ameaçados pela pandemia, só nos resta protestar com veemência, pela loucura do presidente, ao devolver os médicos, certamente por inspiração e obediência a Donald Trump. E o que ganhariam dos EUA com esse gesto insano?
Nesse momento de angústia nacional, podemos e devemos manifestar gratidão e admiração pelo corajoso e valente povo cubano, tão parecido conosco no prazer de viver… na música, dança, novelas, canções românticas, esportes. Na busca de ser feliz, que segundo Aristóteles, é o sentido último de cada vida humana sobre a Terra.
Frei Betto acaba de nos alertar: “A pandemia exige novo comportamento pessoal, nova postura política e nova espiritualidade dos filhos de Adão e Eva”. Segundo o frade dominicano, essa transformação só acontece se vivenciarmos uma abertura amorosa mais intensa para o Outro, a Natureza e o Eterno. De acordo Betto!
Há urgência de uma autêntica revolução mundial para impedir o advento da barbárie e/ou mesmo um eclipse total da Humanidade! O risco que corremos é de se tornarem crise permanente, as crises que costumam fustigar e castigar o sistema capitalista periodicamente.
Risco pior, para nós, é o atual governo implementar um projeto de economia política centrado em salvaguardar o modo de produção envelhecido, ultrapassado, apodrecido pela corrupção sistêmica, pelo burocratismo, individualismo enracinado e pela hipervalorização da “austeridade fiscal”, como instrumento para garantir benefícios e interesses do mercado, das bolsas, do capital especulativo.
Uma máquina de reproduzir desigualdade social e econômica domina a quase totalidade das nações do mundo contemporâneo. Apesar dos sonhos e/ou ilusões de Davos.
Essa máquina gera privilégios para o mundo dos ricos, das finanças, dos bancos e dos poderosos como Trump, loucos por dominar os recursos do Planeta Terra e os humanos.
Cuba é um exemplo de resistência ao “mal estar do mundo” (contemporâneo), tão analisado por Freud e por Marx, a partir de premissas teóricas diferentes. Que a Ilha continue privilegiando a ciência, a cultura, a solidariedade, o internacionalismo, a educação, a quebra do individualismo, a saúde para todos, a segurança e todos os valores geradores do novo homem, da sociedade fraterna e igualitária, de uma vida nova. Continue a enviar brigadas de saúde para a África, América Latina, Ásia e mesmo para uma Europa, poderosa, orgulhosa, rica, colonialista e antirrefugiados.
*Jornalista, embaixador e sacerdote itinerante
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