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Concentração, riscos ou lucro: o que explica o spread bancário no País?

Spread no Brasil é seis vezes maior que a média mundial e até mesmo mais alto do que em países que estão em guerra

O spread bancário no Brasil tem sido um tópico de discussão há muito tempo, e com razão: o País possui o segundo maior spread do mundo, atrás apenas de Madagascar. Mas o que é exatamente o spread? Basicamente, é a diferença entre a taxa que os bancos cobram ao emprestar dinheiro e a taxa que pagam aos clientes pelos depósitos. Em outras palavras, é uma espécie de ‘margem de lucro dos bancos’.

Para se ter uma ideia, em comparação com cerca de cem países listados no Banco Mundial, o spread no Brasil é seis vezes maior que a média mundial e até mesmo mais alto do que em países que estão em guerra. Isso significa que os bancos brasileiros cobram muito caro pelos empréstimos que oferecem, o que levanta questionamentos sobre a eficiência e a competitividade do nosso sistema financeiro.

Há várias razões para essa situação. Primeiramente, existe o risco associado às operações bancárias no Brasil. Com uma economia instável e sujeita a flutuações, os empréstimos se tornam mais arriscados, e os bancos aumentam as taxas de juros para compensar esse risco. Além disso, os bancos têm custos operacionais elevados. Custos que contemplem funcionários, investimentos em tecnologia e infraestrutura, burocracias, impostos e adequações às legislações locais são compartilhados com os clientes por meio de taxas e spreads mais altos.

Segundo a Febraban, a federação que representa os bancos brasileiros, os principais motivos para os spreads bancários elevados seriam os altos custos da intermediação financeira, especialmente a inadimplência e os impostos. Eles argumentam que mesmo se os bancos não tivessem lucro algum, o spread bancário cairia muito pouco.

Um fator bastante questionado é a concentração bancária. O Banco Central já falou sobre este tema, isto é, sobre a importância da falta de concorrência para os spreads bancários. Em um estudo chamado “Concentração, Concorrência e Custo de Crédito”, publicado no relatório de economia bancária de 2018, eles sugerem que o poder de mercado dos bancos, que está relacionado à falta de concorrência, seria responsável por apenas 7,3% do spread médio da amostra utilizada no estudo.

Outros estudos, porém, revelam que o cenário não é bem este. O artigo “Dispersion in financingcostsanddevelopment”, por exemplo, elenca que a inadimplência contribui significativamente para as variações nos spreads bancários, mas não é o fator principal. Já o estudo “Bank competition, costofcreditandeconomicactivity: evidencefromBrazil”, destacou a importância da concorrência. Ele destaca que fusões e aquisições de bancos nacionais têm um impacto substancial nos spreads. Por exemplo, a redução de quatro para três bancos em um mercado local aumenta os spreads em 16% e reduz o volume de crédito em 17%. O estudo também sugere que, se os spreads no Brasil fossem reduzidos para a média mundial, o volume de crédito aumentaria em 40%. Portanto, a alta concentração no mercado de crédito é um fator crucial para os elevados spreads bancários no Brasil. A realidade, porém, é que quase 80% do mercado de crédito está concentrado em cinco grandes bancos.

Spreads bancários altos têm consequências negativas para a economia. O alto custo do crédito desestimula o consumo, os investimentos e a inovação tecnológica, prejudicando o desenvolvimento econômico e o bem-estar das famílias. É fácil entender: se o crédito fosse mais barato no Brasil, poderíamos produzir muito mais do que produzimos atualmente.

Para resolver esse problema, uma abordagem seria incentivar uma competição mais acirrada. Precisamos de um mercado financeiro com mais instituições para ter mais opções e preços melhores (spreads menores). Regulamentações que dificultam a entrada de novas empresas precisam ser revistas. Nesse sentido, o Banco Central já deu alguns passos importantes, especialmente com a implementação das ações em sua agenda BC+. Porém, ainda há muito a ser feito para garantir um mercado mais competitivo. Afinal, isso beneficia a todos: consumidores, empresas e a economia como um todo.

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