O crescimento do PIB no Brasil é sustentável?
O PIB do terceiro trimestre, divulgado na última semana, pelo IBGE, surpreendeu novamente o mercado. O crescimento econômico do país, porém, continua sendo impulsionado principalmente pelo consumo das famílias, enquanto os investimentos enfrentam entraves estruturais que limitam o desenvolvimento de longo prazo.
Os dados mostram um avanço de 0,9% em relação ao segundo trimestre deste ano e de 4% na comparação anual. O consumo das famílias segue como o principal motor desse crescimento, registrando alta de 1,5%. Esse desempenho reflete o aumento da renda disponível e a resiliência do mercado de trabalho. No entanto, também expõe um desequilíbrio importante: enquanto a demanda interna cresce, o setor externo enfrenta dificuldades, com queda nas exportações e aumento nas importações. Essa combinação reduz a competitividade da economia e pode pressionar os preços no médio prazo, especialmente com o câmbio pressionado.
Por outro lado, os investimentos, medidos pela Formação Bruta de Capital Fixo, cresceram 2,1% no trimestre. Contudo, sua participação no PIB permanece em 17,6%, nível insuficiente para sustentar taxas de crescimento acima de 3% ao ano. Esse cenário está associado à baixa poupança interna, que caiu para 14,4% do PIB, dificultando o financiamento de projetos de longo prazo e ampliando a dependência de capital estrangeiro.
Nos setores produtivos, o crescimento foi liderado pelos Serviços, que representam mais de 70% da economia e avançaram 0,9%. Destaques incluem os segmentos de Informação e Comunicação (2,1%) e Atividades Financeiras (1,5%). Em contrapartida, a Agropecuária e parte da Indústria registraram retrações, enquanto a Construção Civil, setor tradicionalmente relacionado ao investimento, também recuou.
Embora o resultado do PIB seja positivo, ele levanta preocupações sobre a sustentabilidade do crescimento. A expansão baseada no consumo, sem um avanço proporcional nos investimentos, é insustentável no médio e longo prazo. Esse desequilíbrio pode gerar pressões inflacionárias, especialmente se a demanda interna continuar em alta sem uma resposta adequada da oferta. Além disso, a manutenção da Selic em patamares elevados dificulta a retomada dos investimentos privados, perpetuando um ciclo de baixo crescimento.
Para superar esses desafios, o ajuste das contas públicas é essencial. A tensão entre política fiscal e monetária precisa ser resolvida: o governo deve conter os gastos excessivos e alinhar suas despesas à capacidade de geração de receitas. Isso ajudaria a restaurar a confiança dos agentes econômicos, permitindo que o Banco Central reduza a taxa de juros e estimule os investimentos.
A economia avança, mas precisa consolidar suas bases. Sem maior ênfase em poupança e investimento, o crescimento continuará vulnerável e sujeito a oscilações. O consumo pode ser o motor do presente, mas é o investimento que garante o futuro.
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