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Japão em recessão: e o Brasil com isso?

Na última semana, o Japão divulgou dados do seu Produto Interno Bruto (PIB) que revelaram uma recessão técnica, caracterizada quando há recuo nessa métrica por dois trimestres consecutivos. O fraco desempenho da atividade fez com que o país asiático perdesse seu posto de terceira maior economia do mundo para a Alemanha. Nesse artigo, irei explorar o que levou a antiga economia a este cenário.

Além de componentes estruturais, como o fato de o país sofrer há décadas com uma queda da população em idade produtiva, a economia japonesa enfrenta uma conjuntura desafiadora. Inflação nas máximas de quatro décadas, uma moeda fraca e preços de alimentos em alta são alguns dos fatores que impactam a dinâmica da economia por lá.

O PIB caiu 0,4% de outubro a dezembro, seguindo uma queda revisada de 3,3% nos três meses anteriores. Embora os lucros corporativos estejam em níveis recordes, o mercado de ações em alta e as taxas de desemprego em baixa, os gastos dos consumidores e os investimentos produtivos, impulsionadores-chave da economia, estão em franca deterioração.

O fraco iene japonês é uma questão sensível para o banco central local. Embora aumente o custo dos bens importados e pressione a inflação, beneficia as principais empresas japonesas que exportam e trazem ganhos estrangeiros para o país em moeda local. A política monetária mais flexível do Banco do Japão, mantidas mesmo com o aumento das taxas pelo Banco Central Europeu e pelo Federal Reserve, contribuíram para a fraqueza da divisa, tornando-a atraente para investidores globais.

Embora a economia da Alemanha tenha superado a do Japão no último ano, ela o fez em termos nominais. Quando avaliamos a Paridade do Poder de Compra, isto é, quando consideramos o poder de compra das diferentes moedas em termos de uma cesta de bens e serviços, essa mudança pode levar mais tempo. Projeções do Fundo Monetário Internacional indicam que o PIB japonês deve atingir US$ 7,38 trilhões nesse critério até 2028, enquanto o alemão deve alcançar US$ 6,55 trilhões. No conceito nominal, porém, é provável que, em breve, o Japão também perca o quarto lugar entre as maiores economias para a Índia. O desafio em manter essa posição está atrelado à população em declínio na terra do sol nascente, contrastando com o crescimento vigoroso do país mais populoso do mundo.

Você pode estar se perguntando: e o Brasil nisso tudo? Apesar de o Japão não ter o mesmo destaque comercial que a China ou os Estados Unidos, é um parceiro importante, com uma relação que vem desde décadas atrás. A imigração japonesa para o Brasil teve início em 1908, com a chegada do navio Kasato Maru, apresentando um papel significativo no desenvolvimento da agricultura brasileira. Mas foi no século XX que o Japão se tornou um parceiro comercial vital, especialmente após a Segunda Guerra Mundial, quando o país asiático estava reconstruindo sua economia.

O Japão é o nono maior destino das exportações brasileiras, principalmente de produtos agrícolas como soja, carne bovina e minério de ferro, representando cerca de 2% do total exportado por nós. Da mesma forma, é o décimo maior fornecedor de produtos para o Brasil. De lá, importamos produtos manufaturados de alto valor agregado, como automóveis, eletrônicos e máquinas. Aos leitores mineiros, essa relevância também é notória para o estado: em 2022, as exportações de Minas Gerais totalizaram US$1,01 bilhão para o país asiático.

Fato é que o Japão é um mercado crucial para os produtos brasileiros, ajudando a diversificar nossas exportações e reduzir nossa dependência de outros mercados. Além disso, o investimento japonês no Brasil contribui para o desenvolvimento da infraestrutura, para a geração de empregos e para a transferência de tecnologia.

A relação entre a economia brasileira e a japonesa é estratégica e de longo prazo. A interdependência comercial, os investimentos mútuos e a cooperação em diversas áreas destacam a importância dessa parceria para o desenvolvimento de ambos os países. Desta forma, o choque observado em uma das mais antigas economias do mundo certamente será sentido por aqui.

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