Economia para Todos

O amadurecimento das fintechs

Indústria fintech tem sólido crescimento de receita (40%) e lucro (39%) em nível global

A era de crescimento acelerado das fintechs, impulsionada pela digitalização na pandemia, parece ter cedido lugar a uma fase de maturação que pode ser decisiva para a reconfiguração de mercados globais. Mais do que disruptivas, essas estruturas demonstram que a inclusão financeira não é apenas uma bandeira, mas a base de um modelo de negócio lucrativo e sustentável.

Um estudo recente do Fórum Econômico Mundial e do Cambridge Centre for Alternative Finance aponta que, globalmente, a indústria fintech avança com um sólido crescimento de receita (40%) e lucro (39%). A América Latina e o Caribe, onde o Brasil figura como um dos mercados mais efervescentes, exibem um desempenho ainda mais notável, liderando o crescimento de receita com 46% e alcançando 45% de aumento no lucro. Em partes, esses números são o resultado de uma estratégia deliberada de focar em segmentos negligenciados pelos grandes conglomerados financeiros.

No Brasil, onde poucos bancos dominam a maior parte do mercado de crédito e serviços, a atuação das fintechs é particularmente transformadora. O relatório indica que, na América Latina, as micro, pequenas e médias empresas já representam 61% da base de clientes das fintechs. Isso evidencia como esses novos players estão ocupando um espaço deixado vago pelos incumbentes, que por décadas consideraram esse público de alto risco ou de baixa rentabilidade. Ao oferecer produtos acessíveis e customizados, as fintechs não apenas promovem a inclusão, mas criam um novo e vasto mercado.

Contudo, a transição de um crescimento acelerado para um impacto sustentável não ocorre sem atritos. O ambiente regulatório surge como um desafio crítico. Embora a percepção geral seja positiva, uma parcela relevante das fintechs na América Latina (20%) considera a regulação “excessivamente restritiva”, e 32% classificam a clareza das normas como “ruim”.

Esse cenário de desafio regulatório se materializa de forma contundente no caso brasileiro com a recente MP 1.303/25. Ao instituir para as fintechs as mesmas alíquotas de CSLL de 15% ou 20% já aplicadas aos bancos tradicionais, a medida elimina um diferencial competitivo importante para o segmento. Na prática, essa equiparação tributária representa um obstáculo que pode frear a inovação e, paradoxalmente, proteger a posição dominante dos grandes bancos, dificultando a competição que tanto beneficia o consumidor ao forçar a melhoria de serviços e a redução de custos.

O setor chega a um momento decisivo. O desafio agora vai além da simples inovação. A tarefa é construir um mercado mais competitivo e justo, ao mesmo tempo em que as empresas enfrentam barreiras regulatórias e tributárias cada vez maiores. O resultado desse conflito entre inovação e regulação definirá não apenas a sobrevivência dessas empresas, mas também um sistema financeiro mais competitivo.

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