Obliquidade no desenvolvimento: o melhor caminho para objetivos como felicidade, sucesso e lucro
A obliquidade, termo bastante utilizado pelo economista britânico John Kay, sustenta que objetivos complexos, como felicidade, sucesso ou lucro, são mais bem alcançados de forma indireta. Em vez de persegui-los frontalmente, é mais eficaz focar em atividades que os tornam possíveis como consequência. Essa ideia, embora contraintuitiva, tem enorme valor para pensar os rumos da economia brasileira.
No Brasil, essa lógica salta aos olhos quando observamos a condução da política econômica nas últimas décadas. O País tem tropeçado, repetidamente, em empecilhos de curto prazo que comprometem a construção de um desenvolvimento mais sólido e duradouro. Governos, em busca de crescimento imediato, recorrem com frequência a medidas artificiais: expansão desmedida do crédito, desonerações fiscais generalizadas, congelamento de tarifas e controle de preços de combustíveis. Tais ações até produzem algum alívio no presente, mas invariavelmente geram distorções e custos elevados no futuro.
A experiência entre 2011 e 2014 é exemplar. Para sustentar o crescimento, o governo interveio em tarifas, desonerou setores inteiros e ampliou gastos públicos. O resultado? Estagnação, desequilíbrio fiscal e uma profunda recessão. A busca direta pelo crescimento minou as bases do desenvolvimento. É nesse ponto que a ideia da obliquidade nos oferece uma perspectiva interessante, visto que o verdadeiro progresso econômico não se atinge com metas de curtíssimo prazo, mas com a construção paciente de fundamentos – leia-se educação, infraestrutura, segurança jurídica, inovação e qualidade institucional.
O mesmo princípio vale para a política fiscal. Tentar eliminar déficits a qualquer custo, por meio de cortes abruptos e descoordenados, até pode gerar um superávit momentâneo, mas frequentemente às custas de serviços públicos essenciais e da capacidade de investimento do Estado. Em contrapartida, uma estratégia de consolidação fiscal bem desenhada, baseada em regras claras, revisão criteriosa de renúncias ineficientes e foco na qualidade do gasto, tem mais chances de promover equilíbrio duradouro sem sufocar o crescimento.
O desenvolvimento é, por natureza, um objetivo oblíquo. Exige coordenação intertemporal, diálogo federativo e consistência técnica. Isso demanda abandonar a obsessão pelos resultados rápidos e abraçar uma visão de longo prazo. Em vez de insistir em “fazer o PIB crescer” como meta única, o Brasil precisa se perguntar: o que realmente sustenta o crescimento?
Por vezes, os atalhos custam caro. Só avançaremos quando aceitarmos que, paradoxalmente, o caminho mais direto para o desenvolvimento é aquele que se faz por vias oblíquas. Economias maduras, como a da Coreia do Sul, entenderam isso: não buscaram “crescimento” como objetivo imediato, mas apostaram, por décadas, em qualificação, tecnologia e organização institucional. O crescimento foi uma decorrência.
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