Jogos Olímpicos envolvem política, economia e muitas emoções

Nestes meses de férias, mais longas no hemisfério norte do que por aqui, há guerras mais intensas entre a Rússia e a Ucrânia e entre Israel e os movimentos terroristas do Hamas e Hezbollah. A esses dois conflitos ainda se somam os vários conflitos na África, onde milhares de pessoas estão sendo mortas, no Myanmar, e revoltas como na Venezuela, após a fraude nas eleições.
Mas os olhos do mundo estavam grudados nas telas das televisões, naturalmente chinesas, patrocinadoras, no campeonato europeu de futebol Euro 2024, na Alemanha. Depois, o campeonato latino-americano, com direito a ver Messi no final da sua carreira e a Argentina levando o título, nos Estados Unidos.
E, na França, o Tour de France, a corrida mais famosa de ciclismo, vencida pela terceira vez pelo esloveno Pogačar, no meio da recepção ao menino Endrick pelo campeão europeu de futebol Real Madrid – e já estamos no meio de Jogos Olímpicos de Paris.
Fabulosa festa, mesmo com chuva, de inauguração, com uma maravilhosa Celine Dion nos encantando novamente e a Igreja Católica protestando contra apresentações de diversidades de gêneros e interpretação da Santa Ceia. O mundo hoje é mais diverso, mais inclusivo, menos racista e mais abrangente. É isso que os organizadores queriam apresentar. A França, berço da primeira revolução democrática, liberté, égalité, fraternité, ao que se adicionou solidarité.
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Nos jogos esportivos entram em campo emoções que só aumentam quando as competições são internacionais. E entra também a política. Lembremos dos jogos olímpicos de Berlim, em 1936, em que, na véspera da Segunda Guerra Mundial e do massacre de milhões de judeus e da morte de mais de 45 milhões de pessoas, o mundo admirava a organização alemã, representada pela máquina nazista, cujo líder se negou a cumprimentar Jesse Owens, negro medalhista americano. E em Paris não temos atletas da Rússia, sancionada por causa da invasão da Ucrânia.
Nos embrulhamos na bandeira nacional e os ganhadores são nossos heróis e os perdedores, lamento, fizeram o nosso Brasil perder. E essas competições também dão asas a todo tipo de extremismos. Um jamais esquecido é o massacre, em 1972, nos jogos olímpicos de Munique, de atletas israelenses, por terroristas palestinos. Assim, a passagem um tanto quanto tranquila da Euro na Alemanha foi um alívio.
Já na França, que vai receber durante os jogos olímpicos 3 milhões de espectadores e 10.714 atletas de 206 nações, há oficialmente 55 mil forças de segurança em campo para garantir a tranquilidade. E, mesmo assim, houve acidentes nas ferrovias e corte de cabos de fibra ótica. E ainda estamos no meio dos jogos. E sem a falar no mal explicado roubo do Zico, andando com R$ 3 milhões no táxi, como se fossem R$ 50.
A complexidade tecnológica de organizar jogos olímpicos, que foram realizados no Brasil em 2016, está aliada também à capacidade econômica. Não há dúvida de que há uma promoção do país e dos lugares onde estão sendo realizados os eventos. No caso da França, com 329 eventos em 32 modalidades, em 16 cidades e mais no Tahiti, pintado para a eternidade por Paul Gauguin, mas também onde, além de ondas para surf, temos que lembrar que era o lugar de testes nucleares, estes jogos devem trazer benefícios econômicos avaliados para, em alguns anos, em R$ 40 a 50 bilhões. Os turistas devem gastar durante os jogos uns R$ 15 bilhões.
E os jogos vão custar, pela expectativa, meros R$ 50 bilhões, dos quais o governo francês vai contribuir com um terço e o resto vem dos patrocínios, parcerias etc. E no caso francês tem que incluir a despoluição do rio Sena, que foi o maior investimento dos jogos. E, tanto no Euro2024 na Alemanha como agora na França, os maiores patrocinadores são empresas chinesas, e cada vez mais aparecem as empresas de apostas.
Falando em jogos em Paris, lembramos do Rio 2016, quando a previsão de investimento era de US$ 5 bilhões e o realizado, o maior de todos os jogos olímpicos modernos, passou de US$ 24 bilhões, ou seja, quase 5 vezes mais. Essa questão está sendo colocada cada vez mais como determinante na escolha de novas sedes de jogos.
Seja como for, neste mundo conturbado, vemos estes jogos ainda como uma esperança de paz e convivência entre os povos, mesmo que competindo e cada um torcendo por atletas do seu país e, portanto, torcendo pelo seus país.
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