Pensando o Futuro

Sociedade do espetáculo e a nova política

Espetacularização da política foi catalisado pelas novas mídias e as redes sociais

A dimensão política é das mais difíceis de prever, devido à volatilidade tanto do eleitorado quanto dos próprios políticos.

Estima-se que cerca de 40% dos eleitores decidem em quem vão votar nas últimas 72 horas antes do pleito. Os políticos, com razoável frequência, dão guinadas de opiniões e posições por simplesmente perceberem que a opinião pública mudou ou que as condições da realidade se alteraram.

É possível perceber uma tendência cada vez mais forte da espetacularização da política, e isso foi catalisado pelas novas mídias e as redes sociais. O livro ‘Sociedade do espetáculo’, de Guy Debord, é de 1967, aborda esta questão e, desde então, a sociedade cada vez mais se tornou afetada por programas de televisão, filmes, mídias sociais, reality shows e memes.

Os políticos foram se apropriando dessas novas formas de comunicação até relativamente lenta, pois as estruturas partidárias limitavam a entrada de novos políticos criando barreiras para garantir a dominância daqueles que já estavam há mais tempo.

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A 1º onda de espetacularização foi a da própria televisão e dos comícios que eram eventos artísticos e culturais. Desde a década de 1960, grandes manifestações políticas já eram eventos culturais. A adaptação à televisão com propagandas políticas vem ocorrendo desde a década de 1970 pelo menos.

Os políticos que souberam dominar o meio televisivo tiveram uma vantagem. Ronald Reagan se valeu em boa parte da sua fama como ator para ser eleito. Donald Trump ficou famoso nacionalmente nos EUA com o programa ‘O Aprendiz’, que durou quatorze temporadas. Volodymyr Zelensky protagonizou o show ‘Servo do povo’ entre 2015 e 2019. No Brasil, vários artistas foram eleitos para cargos públicos, tais como Agnaldo Timóteo, Tiririca e Clodovil.

Uma 2ª onda se iniciou com o advento das redes sociais a partir dos anos 2000. O debate político deixou de ser um evento a cada 2 anos e virou uma narrativa contínua, que se adapta aos acontecimentos do momento, quase que como num Docu-drama, programa de auditório ou reality show.

As decisões de política pública são cada vez mais influenciadas por esse estilo, e a tensão entre a análise técnica da política pública e a necessidade de “manter a audiência interessada” só aumenta.

A população em geral sempre teve pouca paciência para discursos longos e análises cheias de números. Isso faz do meme uma ferramenta de comunicação fundamental. Vídeos curtos com mensagens simples são mais eficazes do que vídeos longos e complexos.

Isso tem alterado o panorama da política, pois facilitou a novos políticos, em geral jovens nativos das plataformas digitais, a entrarem na política sem depender de verbas milionárias e agências de publicidade.

Uma revolução tecnológica, mais uma vez, vem mudando a forma pela qual a população pensa e faz política. A política sempre foi um show desde os tempos romanos, mas agora ela se adapta às novas tecnologias, meios e formatos.

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