Nos 120 anos de Afonso Arinos de Melo Franco
Intelectual de sólida formação, leitor disciplinado e professor apaixonado pelo ofício, Afonso Arinos de Melo Franco nasceu em 27 de novembro de 1905, em Belo Horizonte, descendente de antiga linhagem com raízes em Paracatu, no Noroeste de Minas Gerais. Estamos celebrando, agora, os seus 120 anos. De inteligência poliédrica, atento e sensível às dores e aos dramas de seu mundo, desde cedo sentiu-se convocado pelo universo das letras e da cultura, havendo escrito, ao longo da vida, livros de alta qualidade, filiados a áreas tão distintas quanto o Direito Constitucional, a História, a Ciência Política e a Crítica Literária, sem esquecer as biografias de seu pai, Afrânio de Melo Franco, e do presidente Rodrigues Alves, avô de Anah, sua mulher.
Está em sua produção memorialística, no entanto, uma das culminâncias de sua obra. Editadas em cinco volumes, depois reunidas sob um único título, “A alma do tempo”, suas memórias foram consideradas pelo professor Antônio Cândido como um dos pontos altos da língua portuguesa. De leitura fluida e agradável, as reminiscências do autor vão desde a sua infância e a juventude, passadas entre Minas, o Rio de Janeiro e a Europa, até quase o final dos anos setenta, permitindo aos leitores acompanharem não só a sua vida privada como também os principais acontecimentos históricos, políticos, sociais e culturais de que tomou parte, de que são exemplos a Revolução de 30, a ascensão de Vargas, o Manifesto dos Mineiros, de 1943, e a queda do Estado Novo, em 1945. Também estão no texto os momentos de fundação da União Democrática Nacional (UDN), a eleição de Jânio Quadros e o período em que ocupou o Ministério das Relações Exteriores, naquele governo, sendo um dos principais responsáveis pela idealização da chamada ‘política externa independente’, que alterou, para sempre, a história diplomática do País.
Deputado federal por três vezes e senador em duas ocasiões, Afonso Arinos foi o autor, no período republicano, da primeira lei contra o racismo, que recebeu o seu nome. Em 87, presidiu a Comissão de Sistematização da Assembleia Nacional Constituinte. Não são poucas, portanto, as razões para celebrar a sua rica trajetória e a imensa contribuição que deu ao Brasil, em variados campos. É o que estamos fazendo agora. Editado pela Miguilim e com lançamento previsto para março de 2026, o livro “Nos 120 anos de Afonso Arinos de Melo Franco” (organizado pelo professor Arno Wehling e por mim) reúne 17 ensaios de brilhantes autores e traça um detalhado e rico panorama do percurso de AA. Voltaremos ao tema.
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