Viver em Voz Alta

‘Ainda estou aqui’, de Marcelo Rubens Paiva, foi lançado em 2015 e ganhou versão cinematográfica em 2024

Longa foi indicado em três categorias para o Oscar: melhor filme, melhor atriz e melhor filme estrangeiro

Nascido em 1959, Marcelo Rubens Paiva estreou na literatura em 82, com “Feliz ano velho”, livro em que narra o terrível acidente sofrido aos vinte anos, quando bateu a cabeça no fundo de um lago, ficando tetraplégico. Depois, vieram os romances “Blecaute” (1986), “Não és tu, Brasil” (1996), “Malu de bicicleta” (2003) e “A segunda vez que te conheci” (2008). “Ainda estou aqui” (Editora Alfaguara, 295 páginas) foi lançado em 2015 e ganhou versão cinematográfica em 2024, em filme dirigido por Walter Salles Jr e protagonizado por Selton Mello e Fernanda Torres, que, pelo papel de Eunice, mãe de Marcelo, venceu o Globo de Ouro de melhor atriz de drama. Na quinta-feira (23), o longa foi indicado em três categorias para o Oscar: melhor filme, melhor atriz e melhor filme estrangeiro.

Em linguagem direta, fácil e fluente, na primeira parte do livro, o autor partilha com os leitores diversas cenas da vida em família, ainda durante a sua infância – tanto os meses de férias na fazenda de Eldorado Paulista quanto o dia a dia no Rio de Janeiro. O destaque é para aspectos marcantes da personalidade de sua mãe, incumbida de criar sozinha os cinco filhos, a partir de janeiro de 71, quando seu marido foi levado de casa por homens armados para nunca mais voltar.

De impressionante força de vontade e dona de um gigantesco poder pessoal, Eunice não se rendeu à dor nem ao desespero. Pelo contrário. Ergueu-se e lutou, como relembra o filho: “Aos quarenta e dois anos, prestou outro vestibular. Estudou sozinha, viúva, triste. Em Santos, para onde nos mudamos. Estudou e entrou em primeiro lugar na faculdade de direito e se transferiu para a do Mackenzie. Uma prima conta que minha mãe estudava o tempo todo, que nós corríamos pela casa, e ela estudava, estudava, estudava. Eventualmente, olhava pelo corredor para checar se estávamos vivos, se não tínhamos incendiado a casa do meu avô Paiva, onde moramos em 1971 e 1972.”

Na segunda parte, Marcelo Rubens Paiva concentra sua atenção no golpe de 64, para, em seguida, contar a prisão do pai, e, depois, da mãe e da irmã. O livro também informa como evoluiu o tratamento do ‘caso Rubens Paiva’ e em que pé ele está, atualmente. É marcante o modo como o narrador fala da mãe, que, em determinada altura, passou a conviver com o Alzheimer: “Ficar ao seu lado é como ficar ao lado de um bebê, mas não é. Ela está lá. Sua história está com ela, foi vivida por ela (…) recentemente, uma nova fala cheia de significados entrou no seu repertório, especialmente quando um turbilhão de emoções a ataca (…): Eu ainda estou aqui. Ainda estou aqui.”

O conteúdo continua após o "Você pode gostar".


Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas