Viver em Voz Alta

‘Ainda quanto a você’ é o novo livro de Ricardo Aleixo

Para quem conhece a já vasta e respeitada obra do autor, vai apreciar muito o novo título

Lançado na Casa Literíssima, no bairro Coração Eucarístico, em Belo Horizonte, “Ainda quanto a você” (Literíssima, 48 páginas) reúne 19 ótimos poemas de Ricardo Aleixo, membro da Academia Mineira de Letras, além de belas ilustrações de Rafa Tolúji, num projeto gráfico bem cuidado, leve e atraente, que convida o leitor jovem a se interessar pelas suas páginas. Quem conhece, pelo menos um pouco, da já vasta e respeitada obra do autor, vai apreciar muito esse novo volume.

Tendo como fio condutor o tema da paternidade, o livro é dedicado aos pais, à companheira Natália e aos filhos de Ricardo Aleixo, e aberto pela epígrafe de Mano Brown (“Família brasileira – dois contra o mundo”), que certamente dialoga com o conteúdo dos seus textos, entre os quais está o forte: “Quanta coisa a gente deixa de viver, não é, pai, para não bater de frente com o mundo”.

Em vários momentos, o filho se dirige ao pai, como no lindíssimo “Pai, o que te faz”: “Pai, o que te faz sentir mais medo?/o beco sem saída ou o horizonte aberto?/o bafo do passado ou o do futuro incerto?/a beira do abismo ou o frio do deserto?/ ou teu menino vivo e cada vez mais perto?”. Outro exemplo de força da literatura do autor aparece de uma vez, no texto que segue: “A mãe, pai, é a pessoa mais corajosa que eu conheço./Pense num colega seu, aí do presídio, que tem fama de corajoso./ Pode ser corajoso porque enfrentou (e até matou) não sei quantos polícias, ou sei lá quantos bandidos./Mas a mãe não: ela é corajosa porque é./Porque sim. Por falta de opção.”

A figura da mulher retorna quando o filho indaga o pai a respeito de como se deu o encontro amoroso com sua mãe: “O que foi que você viu na minha mãe para se interessar por ela?/ Ou não chegou exatamente a se interessar por ela?/ A impressão que eu tenho é que ela, para você, foi só mais uma (pouco importava a cor da pele dela) que você não podia deixar escapar./ Foi, não foi?”

O poema que dá título ao livro também merece atenção, porque é mais um momento dessa ‘conversa’ que o filho resolve ter com seu pai: “Ainda quanto a você estar preso há tanto tempo: me conte, se achar que é o caso (eu acho que é),/que vacilo foi que você deu, afinal?/ Isso de ‘é uma história muito longa, um dia eu te conto, filho’, já não cola, pai./Aproveite para contar por agora, quando me sinto disposto a ouvir/ e até a compreender (o que não faz um rapaz apaixonado – já pensou?) as piores coisas que a assim chamada humanidade tiver para me contar”.

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