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Ana Cecília Carvalho é eleita para a Academia Mineira de Letras

Conheça um pouco mais sobre a nova ocupante da cadeira de número 36 da Academia Mineira de Letras

Concorrendo contra sete candidatos, Ana Cecília Carvalho foi eleita, na última segunda-feira, a nova ocupante da cadeira de número 36 da Academia Mineira de Letras, fundada por Eloy Ottoni e ocupada por Nelson de Senna, Oscar Mendes, Wilton Cardoso e Aloísio Garcia, confrade que nos deixou há três meses. Ana é a 10ª mulher a ingressar na Casa de Alphonsus de Guimaraens e de Henriqueta Lisboa, e a primeira psicanalista a ter assento entre os membros da instituição, prestes a completar cento e quinze anos.

Apaixonada pela literatura desde a infância, ela começou a escrever na adolescência, incentivada pela máquina de datilografar que ganhou de presente dos pais. Ao longo da vida universitária, publicou seus primeiros textos, ainda nas revistas literárias da UFMG, onde concluiu a graduação em Psicologia e onde faria, tempos depois, o Doutorado em Literatura Comparada, de que resultou um de seus livros mais importantes: “A poética do suicídio em Sylvia Plath”, recentemente reeditado.

Duas vezes ganhadora do Prêmio Cidade de Belo Horizonte (em 75 e em 85), Ana Cecília também conquistou o Prêmio Nacional de Brasília, em 1991, e foi finalista do Jabuti, em 1993. Eclética, ao seu talento para a prosa de ficção, ela adicionou uma admirável habilidade de criar histórias para crianças, de que são provas os ótimos títulos infanto-juvenis lançados no decorrer de sua carreira. Cito os cinco volumes que assinou em parceria com Robinson Damasceno dos Reis: “Papagaios! (uma história de detetives, piratas e mágicos)”, “Policarpo: o inseto desclassificado”, “O ourives sapador do Pólo norte”, “O mundo do meu amigo – o encontro de dois meninos, um do campo, outro da cidade” e “Pedrinho dá o grito”.

Destaco, igualmente, a chamada “trilogia da inquietude”, composta por três volumes tão potentes quanto perturbadores: “Os mesmos e os outros: o livro dos ex”, “A memória do perigo” e “O foco das coisas & outras histórias”, em que, de modo quase premonitório, Ana já antecipa o cenário de polarizações e conflitos que passamos a viver nos últimos anos, como resultado do acirramento de tensões ideológicas.

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Mas não posso terminar a coluna de hoje sem fazer referência ao mais saboroso e divertido produto da lavra de Ana Cecília Carvalho: o sensacional “O livro neurótico de receitas”, composto por cinquenta capítulos, todos dedicados à avó da autora, Teresa Kizhner Kaiserman, com quem ela aprendeu a cozinhar. Os nomes dos pratos são memoráveis: “Salmão narcisista”, “Bolinhos obsessivo-compulsivos de frango”, “Pavê edipiano” e a “Torta megalomaníaca de coco”. Seja bem-vinda, Ana!

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