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Bienal Mineira do Livro debate a promoção literária

Foi feita uma justa e merecida homenagem para os saudosos Affonso Romano de Sant’anna e Benito Barreto, que partiram neste primeiro semestre de 2025

A convite de sua curadora, Guiomar de Grammont, fui o mediador do debate que a Bienal Mineira do Livro promoveu sobre a produção literária em Minas Gerais hoje. Dela participaram os acadêmicos Ana Cecília Carvalho, Carlos Herculano Lopes e Luís Giffoni. Antes de abordarmos o tema proposto, fizemos a justa e merecida homenagem a dois grandes escritores que nos deixaram nos primeiros meses de 2025: Affonso Romano de Sant’anna e Benito Barreto.

Nascido em Belo Horizonte, mas criado em Juiz de Fora, Affonso Romano formou-se em Letras Neolatinas pela UFMG, onde também concluiu seu Doutorado. Depois de lecionar por um tempo nos Estados Unidos, fixou-se no Rio de Janeiro, onde atuou como professor universitário, poeta e gestor público. Dirigiu a Biblioteca Nacional por seis anos. Nesse período, criou e executou o programa “Proler”, de incentivo à leitura e à literatura. Na imprensa, foi o cronista que sucedeu a Carlos Drummond de Andrade no “Jornal do Brasil”. Entre seus poemas, é preciso destacar “Que país é este?”, de 1980, um texto que marcou época e causou forte impacto, pela coragem em desafiar o regime político então vigente.

Nascido em Dores de Ganhães, Benito Barreto passou a viver em Belo Horizonte ainda jovem. Militante do Partido Comunista, chegou a morar no interior baiano envolvido na tarefa de mobilizar forças em favor de seus ideais. A vocação literária, no entanto, falou mais forte. Ainda nos anos 60, lançou a tetralogia “Os Guaianãs”, em que narra justamente a saga de uma guerrilha nos sertões de Minas e da Bahia. Uma segunda tetralogia viria algum tempo depois: “Saga do caminho novo”. Nela, o talentoso autor explorou, com brilho, o tema da “Inconfidência Mineira”, recriando a saga dos conspiradores contra a Coroa Portuguesa. O autor ocupou a cadeira de número 2 da Academia Mineira de Letras.

Sobre o que é a literatura mineira contemporânea, os participantes do encontro chegaram rapidamente ao óbvio: é impressionante como Minas Gerais continua a gerar talentos literários de alta qualidade, seja na prosa, seja na poesia, fiel à contribuição que deu ao país ao longo de toda a história, desde o século XVIII, com os arcadistas. Não houve um momento da trajetória literária brasileira em que Minas não tenha sobressaído, seja no Simbolismo, seja no Romantismo, seja no Parnasianismo, seja no Modernismo… Agora, temos nomes que garantem a continuidade de nossa posição de destaque. A lista é grande e não caberia nessa coluna. Quem mais tem Adélia Prado, Ana Maria Gonçalves, Ana Martins Marques, Conceição Evaristo?…

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