Conheça a história de Ailton Alves Lacerda Krenak, novo membro da Academia Brasileira de Letras
Nascido na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, Ailton Alves Lacerda Krenak fez a sua voz ser ouvida, ainda muito jovem, durante os trabalhos da Assembleia Nacional Constituinte, em 1987, quando liderou os povos indígenas em sua participação naquele momento histórico para a tão jovem e frágil democracia brasileira. De lá para cá, não parou de mobilizar a opinião pública em torno de temas cada vez mais centrais nas sociedades contemporâneas, como a relação entre a economia e o meio ambiente, que, pelo menos até agora, tem sido desastrosa para os recursos naturais que o planeta ainda conseguiu conservar. Seus livros “Ideias para adiar o fim do mundo”, “A vida não é útil’ e “Futuro ancestral”, todos editados pela Companhia das Letras, exprimem um pouco do vigor de seu pensamento criativo e original, ousado, inovador, disruptivo, surpreendente. Por isso é tão rica a experiência de ler o que o autor publica. Sempre saímos tocados de algum modo, alterados na forma como vemos as coisas.
Empossado em 3 de março de 2023 na cadeira de número 24 da Academia Mineira de Letras (AML), eleito na sucessão de Eduardo Almeida Reis, Ailton foi ali recebido por Maria Esther Maciel, que, na ocasião, proferiu belo discurso, em que qualificou seu confrade como “esse homem dos trânsitos e dos traspassamentos de fronteiras, gêneros literários, tempos, paisagens e culturas, que já foi chamado de ‘xamã cultural’ e poderia também ser invocado como um ‘xamã das letras’.” Na sexta passada, 5 de abril, foi a vez de Ailton empossar-se na cadeira de número cinco da Academia Brasileira de Letras (ABL), sucedendo ao saudoso José Murilo de Carvalho, um dos melhores historiadores com que os mineiros presentearam o país.
Em cerimônia lotada, a que não faltaram representantes de diferentes etnias indígenas, diplomatas, artistas, intelectuais, jornalistas e autoridades públicas (como os ministros Margareth Menezes e Sílvio Almeida), Heloísa Teixeira saudou o novo colega ressaltando a potência de suas intervenções no debate público. Ailton encantou a plateia falando praticamente de improviso, sem esquecer de homenagear o patrono de sua cadeira, o ouro-pretano Bernardo Guimarães, e a escritora cearense Raquel de Queiroz, outra ocupante ilustre de sua cátedra e primeira mulher a eleger-se para a Casa de Machado de Assis, em 1977. Ciente da força simbólica de sua chegada à ABL, disse que não é apenas um, mas pelo menos trezentos, numa reverência aos trezentos e cinco povos originários até hoje existentes no território nacional, todos portadores de tradições e costumes próprios, e, mais ainda, de língua própria. Num aceno amigo aos irmãos da diáspora africana, salientou a importância da literatura oral, e, nela, o papel dos ‘griots’, os contadores de histórias, incumbidos de fazê-las passar de uma geração a outra: “Todo mundo que escreveu um livro maravilhoso escutou histórias maravilhosas de quem não escreveu livro nenhum…”.
Com alegria e bom humor, Ailton contagiou a audiência com o seu espírito livre, espontâneo, até brincalhão, mas, sobretudo, fiel à sua alma e à essência de sua mensagem. Uma mensagem que temos todos urgência de ouvir, antes que não tenhamos mais tempo…
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