Conheça os memorialistas mineiros
Nunca deixarei de me impressionar com o vigor da literatura originária de Minas Gerais. Se demos ao país imensos poetas, como Alphonsus de Guimaraens, Drummond, Murilo Mendes e Adélia Prado, e notáveis prosadores, como Guimarães Rosa, Mário Palmério e Oswaldo França Junior, também não ficamos atrás no campo do memorialismo. Aqui, indispensável mencionar o juiz-forano Pedro Nava e sua rica obra, inaugurada com “Baú de ossos”, livro lançado em 1972. Depois vieram “Balão Cativo”, “Chão de ferro”, “Beira-mar”, “Galo das trevas”, “O círio perfeito” e “Cera das almas”, póstumo, publicado apenas em 2006. Destaco, entre todos, o quarto deles, que aborda a mocidade de Nava em Belo Horizonte, levantando minucioso painel humano e social daquela época.
Vale a referência, também, ao monumental trabalho de Afonso Arinos de Melo Franco, que legou aos leitores cinco volumes de memórias: “A alma do tempo”, lançado em 1961, “A escalada”, “Planalto”, “Alto-mar Maralto” e “Diário de Bolso”, escritos em linguagem literária, como planejou o autor, que sempre quis registrar a sua biografia “do ponto de vista da cultura”. Inspirado pelos legados de Santo Agostinho, em “Confissões”, e Chateubriand, em “Memórias de além-túmulo”, o mineiro acabou gerando, igualmente, relevante documento histórico sobre os principais acontecimentos políticos que presenciou, como a queda do Estado Novo, em 1945; o suicídio de Vargas, em 54, e a idealização da política externa independente do governo Jânio Quadros, quando era o titular da pasta das Relações Exteriores.
Hoje, porém, quero sublinhar autores menos conhecidos, como Cícero Arfino Caldeira Brant, que assinou “Memórias dum estudante” sob o pseudônimo de Ciro Arno. Neste delicioso relato, publicado em 1949, ele rememora seus tempos de aluno, entre 1885 e 1906, em Diamantina, Ouro Preto, Rio de Janeiro e São Paulo, em prosa envolvente e divertida. Outro ótimo memorialista é Salomão de Vasconcelos, que redigiu “Memórias de uma república de estudantes”, editado em 1951. Logo na primeira página, ele fisga a atenção dos leitores com a pergunta: “Como era Belo Horizonte naqueles dias longínquos de 1898-1901?” A resposta é reveladora: “Ruas apenas delineadas, quadras de terrenos cobertas de alecrim e assa-peixe, centros sem rumos, casinhas apenas iniciadas aqui e ali. Lama ou poeira por toda parte”.
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