A eleição do poeta Ricardo Aleixo para a Academia Mineira de Letras
Fundada por Machado Sobrinho, tendo por patrono Lucindo Filho, a cadeira de número 31 da Academia Mineira de Letras já teve como ocupantes Salles Oliveira, Manoel Casassanta, Waldemar Pequeno, Luís Carlos de Portilho e Rui Mourão. Seu novo titular – eleito, na sessão de 20 de maio, com trinta e um votos dos trinta e três votantes – é um dos mais importantes criadores brasileiros da atualidade. Mineiro de Belo Horizonte, Ricardo Aleixo se destaca tanto pela contundência e a originalidade de sua voz poética quanto pelo vigor de sua escrita e a perícia em realizar inteligentes conexões entre distintas formas de expressão artística, como o canto, a dança e a performance. Autor de mais de vinte livros, é respeitado no Brasil e no exterior. Doutor por notório saber pela Universidade Federal de Minas Gerais, é professor visitante da Universidade Federal da Bahia. A partir do segundo semestre, será pesquisador visitante da Universidade de Nova York, nos Estados Unidos, onde residirá com a mulher, a pesquisadora Natália Alves da Silva.
Para quem quer conhecer melhor a produção poética de Ricardo Aleixo, uma boa estratégia é começar por “Pesado demais para a ventania – antologia poética” (Todavia, 195 páginas), volume que reúne textos extraídos dos diversos livros de poemas por ele lançados ao longo de vinte e cinco anos. Na nota com que apresenta o livro, Ricardo relata: “(…) escolhi para constar desta Antologia os poemas que se estruturam a partir de algumas das linhas que, tanto no plano técnico-formal quanto em termos de opções (obsessões?) temáticas, se entrecruzam na maior parte do que resulta das minhas tentativas de compor poesia. O desastre que é a experiência brasileira, do ponto de vista dos descendentes de africanos e dos pobres em geral, faz de boa parte desses poemas, a um só tempo, testemunhos e exercícios de resistência ativa, de celebração da vida-não fascista e do poema como um estado do pensamento e possível respiração”.
Na prosa (sempre poética), destaco dois livros que podem ser chamados de ‘memórias’ e que envolvem os leitores desde a primeira página: “Campo Alegre” (Conceito Editorial, 156 páginas), da excelente coleção “BH. A cidade de cada um”, concebida por José Eduardo Gonçalves e Sílvia Rubião, e “Sonhei com o anjo da guarda o resto da noite” (Todavia, 158 páginas). Deste, transcrevo passagem marcante e, sobretudo, reveladora do futuro do autor: “Poesia era o meu negócio. Minha ideia fixa. Minha comida. Eu lia três ou quatro livros ao mesmo tempo. Em voz alta, se não tivesse ninguém por perto. Augusto. Pound. Maiakóvski. Leminski. Ginsberg. Cabral. Torquato. Sebastião Nunes, que me incluiu na lista do pessoal para quem enviava seus livros na base do ‘pague o quanto quiser, ou não pague nada’. Com meu inglês de ginásio, meu espanhol de orelhada, meu alemão de anedota. No ônibus. Oswald. Drummond. Goethe. Safo. No fundo da casa. No meu quarto. Rimbaud. Baudelaire. Murilo.
No campinho, antes de levar a bolada, enquanto esperava a vez do meu time voltar a jogar, eu escrevia um ou dois poemas por dia. Quatro, quando me sentia bem-disposto. Cópias descaradas, plágios, exercícios ‘à maneira de’. Mais do que qualquer outra coisa, eu lia. E relia. E treslia. Os livros como que colados ao meu rosto, por causa da alta miopia e da nunca suficientemente amaldiçoada cegueira. Dylan – o Thomas, não o cantor (que eu ainda não considerava um poeta). Arnaut. Pessoa. Sabia que a oportunidade bateria à minha porta, que era só uma questão de tempo.”
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