Leiamos Cecília: hoje e sempre!
Vai ao ar, em breve, no canal da Academia Mineira de Letras no YouTube, a entrevista que fiz com o professor Sérgio Alcides Pereira do Amaral, da UFMG, sobre uma das principais poetas da língua portuguesa: a carioca Cecília Meireles, nascida no bairro do Rio Comprido, em 1901, e falecida em 64, no Rio de Janeiro. O começo de sua vida não foi fácil. O pai morreu três meses antes que ela nascesse. A mãe, quando Cecília tinha apenas três anos. Criada pela avó materna, Jacinta, e pela babá Petrina, que sempre lhe contava histórias, Cecília foi excelente aluna, chegando a receber, aos nove anos, medalha de ouro das mãos de Olavo Bilac. Logo, como era de se esperar, tornou-se professora.
Foi uma valente defensora das causas da educação. Escrevia com grande frequência na imprensa sobre o tema e alertava a sociedade sobre a necessidade de reformas e de atualizações e sobre a escassez de livros didáticos adequados para as crianças. Por suas críticas ao sistema educacional, foi perseguida e censurada, chegando a perder os espaços de que dispunha para veicular seus textos. Valente, fundou a primeira biblioteca infantil do país, no Rio de Janeiro, e escreveu livros importantíssimos para os estudantes brasileiros. “Ou isto ou aquilo”, de 1964, é um divisor de águas na produção poética oferecida ao público infanto-juvenil. É poesia de verdade, sem concessões ou facilitações. Trata os leitores mirins com o respeito e a dignidade que merecem, sem subestimá-los ou menosprezá-los.
Surgido em 1953, o notável “Romanceiro da Inconfidência” foi recebido com admiração pelos principais nomes da literatura brasileira da época, como João Cabral de Melo Neto e Carlos Drummond de Andrade, que a ele se referiu como “um exato diamante”. Mestre em História Social da Cultura pela PUC do Rio e Doutor pela Universidade de São Paulo (USP), em nossa conversa, Sérgio Alcides também destacou a dimensão política da obra, que se posiciona sempre ao lado do mais fraco, dos derrotados pela Coroa Portuguesa, além de não perdoar os covardes, os “pusilânimes”, aqueles que não viveram com a coragem necessária para enfrentar os dramas de seu tempo.
Depois de analisar a complexa e sofisticada estrutura do livro, Sérgio ainda sublinhou o quanto ele dialoga com todos os elementos da poesia épica. “O acontecimento histórico da Inconfidência é um motivo, um pretexto para que Cecília faça a sua poesia”. Por muito tempo esquecida ou posta em segundo plano, Cecília volta agora com toda força, despertando, de novo, o interesse dos poetas contemporâneos e dos leitores das novas gerações. Leiamos Cecília: hoje e sempre!
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