Nazareth Fonseca, professora emérita da UFMG
Honrado, assisti à bela solenidade em que a professora Maria Nazareth Soares Fonseca recebeu o título de professora emérita da Faculdade de Letras da UFMG. Presidida pela competente reitora Sandra Regina Goulart Almeida, a sessão contou com a presença de vários membros da imensa legião de fãs que a notável mestra granjeou, ao longo das décadas, tanto pela excelência de seu trabalho na sala de aula, na investigação científica e na orientação de pesquisas, quanto pelo seu carisma, delicadeza e paixão pelas literaturas africanas, afro-diaspóricas e afro-brasileiras, campos ainda pouco explorados pelos estudiosos.
Formada em Letras em 1962, fez especialização e mestrado na UFMG, tendo como orientadora, em sua dissertação sobre o livro “Incidente em Antares”, de Érico Veríssimo, a inesquecível Letícia Malard. Sua tese, intitulada “Reinos negros em terras de maravilhas”, foi fruto do doutorado “sanduíche” realizado na Sorbonne Nouvelle (Paris III), tendo como orientadores a saudosa Eneida Maria de Souza e o professor Daniel-Henri Pageaux. Professora da UFMG entre 76 e 94 e da PUC Minas entre 95 e 2018, Nazareth Fonseca também dirigiu a editora da Universidade Católica, onde fez História por relançar o esquecido “Úrsula”, romance publicado pela maranhense Maria Firmina dos Reis em 1859 e tido, pela maioria dos especialistas, como o primeiro romance escrito por uma mulher negra.
Entre seus livros, é indispensável mencionar “Brasil afro-brasileiro” (Autêntica, 2000), “Literaturas africanas de língua portuguesa: percursos da memória e outros trânsitos” (Editora Veredas e Cenários, 2008), “Poéticas afro-brasileiras”, com Maria do Carmo Lanna Figueiredo (Editora Mazza, 2002), “Mia Couto: espaços ficcionais”, com Maria Zilda Ferreira Cury (Autêntica, 2008) e o último volume da coleção “Literatura e afrodescendência no Brasil: antologia crítica”, com Eduardo Assis Duarte (Editora UFMG, 2011).
Aluno de Nazareth no doutorado, tive o privilégio, anos depois, de organizar com ela o excelente dossiê temático especial “Literaturas africanas de língua portuguesa”, publicado no volume de número 81 da Revista da Academia Mineira de Letras, lançado em Ouro Preto, em 2022. Composto por trinta e um ensaios, assinados por especialistas de alto padrão, o dossiê analisou e divulgou a obra dos principais escritores de Angola, Cabo Verde, Guiné Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com destaque para nomes como Agostinho Neto, Luandino Vieira, Ondjaki, Pepetela, Mia Couto e Paulina Chiziane. Viva Nazareth, professora emérita, plena de méritos, hoje e sempre!
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