O alto impacto da poesia de Gonçalves Dias
Vai ao ar, em breve, no canal da Academia Mineira de Letras (AML) no YouTube, a entrevista que fiz sobre a vida e a trajetória literária de Antônio Gonçalves Dias com a competente professora Andrea Werkema, que leciona Literatura Brasileira na Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Estudiosa da obra do autor, nascido no estado do Maranhão, em 1823, e falecido na costa maranhense, no naufrágio de uma embarcação, em 1864, Andrea relembrou as origens e os anos de formação de Gonçalves Dias, os estudos jurídicos em Coimbra, e sua aproximação com o movimento romântico ainda em Portugal, onde ajudava a divulgar as ideias românticas de Almeida Garret e Alexandre Herculano.
No regresso ao Brasil, em 1845, Dias apressa-se em estrear em livro, lançando, dois anos depois, o célebre “Primeiros cantos”, onde já aparece o impressionante “Canção do Exílio”, de que transcrevo pequeno trecho: “Minha terra tem palmeiras/onde canta o sabiá/as aves, que aqui gorjeiam,/não gorjeiam como lá./Nosso céu tem mais estrelas,/Nossas várzeas têm mais flores,/Nossos bosques têm mais vida,/Nossa vida mais amores…” Poema potente, seu impacto alcançou sucessivas gerações e prosseguiu século XX afora, influindo até sobre a letra do Hino Nacional Brasileiro, de 1922. Os versos de Dias também ecoaram em produções mais recentes, como “Sabiá”, de Tom Jobim e Chico Buarque, de 1968: “Vou voltar,/sei que ainda vou voltar/ para o meu lugar/ Foi lá e é ainda lá/ Que eu hei de ouvir/ cantar uma sabiá…”
Professor de Latim e de História do Brasil no tradicional Colégio Pedro II, no Rio de Janeiro, desde 1849, Gonçalves Dias também atuou intensamente na imprensa, fazendo crítica literária em periódicos como “Jornal do Commercio”, “Gazeta Oficial”, “Correio da Tarde” e “Sentinela da Monarquia”. Foi um dos fundadores da “Revista Guanabara”, publicação decisiva para a difusão dos ideais românticos no país. “Segundos cantos” chegou em 1848. A face indianista da poesia do escritor também se fez notar em composições célebres como “Canção do Tamoio”, “I-Juca Pirama”, “Leito de folhas verdes” e “Canto do Piaga”.
Versátil, foi tradutor e, ainda, dramaturgo, havendo escrito quatro peças: “Patkull”, “Beatriz Cenci”, “Leonor de Mendonça” e “Boabdil”. Outra faceta de Gonçalves Dias que não pode ser esquecida é a de etnólogo. Interessado nos costumes e tradições brasileiras, fez várias viagens pelo interior do território no intuito de registrá-las. É de sua autoria o “Dicionário da Língua Tupy, chamado Língua Geral dos Indígenas do Brasil”, de 1858, obra fundamental para os estudos posteriores sobre o idioma. Passados mais de duzentos anos de seu nascimento, é hora de reativar mais fortemente o seu legado literário e, em especial, a força de sua poesia.
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