Novo livro de Pedro Rogério Moreira comprova seu talento para memorialismo
Em “A vida misteriosa dos gatos” (Thesaurus Editora de Brasília, 289 páginas), Pedro Rogério Moreira, da Academia Mineira de Letras (AML), comprova, mais uma vez, seu talento para o memorialismo. Já na quarta capa, José Mário Pereira relembra que a matéria prima do autor é o diário íntimo que cultiva há mais de quarenta anos. Na orelha, Leonêncio Nossa destaca que o volume oferece uma prosa homogênea, não fragmentada, com um esqueleto bem definido e que as histórias contadas por Pedro ‘fogem do registro meramente saboroso do cotidiano, expondo a realidade com crítica e erudição sem pedantismo’. Uma das três epígrafes que abre o livro, de Gilberto Amado, dá aos leitores o tom do que eles podem esperar: “Às vezes, a recordação é também um prazer e o passado colabora nas alegrias presentes; mas, quase sempre, o passado traz, nas suas águas, o veneno”. De uma segunda, extraída de uma carta de Tchékov, também se encontra boa pista do que virá: “Em todo ser humano, a vida verdadeira, em sua parte mais interessante, desenrola-se acobertada pelo segredo”.
Sobre o seu diário, Pedro escreve: “(…) o meu é de narrativas do cotidiano, registra sobretudo a petite histoire, as anedotas dos homens públicos, coisas chãs, o recreio del hombre medíocre, diria o filósofo esquecido José Ingenieros. Já li Cícero, Tácito, mas, se me fosse solicitada uma escolha por exclusão, ia preferir ler Petrônio, Suetônio…”
Repórter experiente, é com o olhar arguto e sensível às sutilezas e matizes que Pedro mira o seu entorno, sobretudo em suas camadas menos óbvias. Escavador de lembranças, repõe ao presente personalidades e fatos que ficaram relegados ao passado, num inteligente jogo entre temporalidades aparentemente diversas, mas que se cruzam para compor narrativas de intenso sabor humano. Habituado a conviver com importantes líderes políticos e expoentes do mundo da cultura, o jornalista acaba por gerar relatos de relevância histórica, nunca antes divulgados, como alguns que envolvem nomes como João Baptista Figueiredo, José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Dilma Rousseff.
Em textos sempre leves, bem-humorados e até divertidos, Pedro leva seu público gentilmente pelas mãos, num percurso que se cumpre com prazer. Rico em informações, o livro proporciona entretenimento de alta qualidade, além de valer, também, como uma agradável e instrutiva viagem pelas últimas décadas da vida brasileira. Os personagens que habitam as páginas de “A vida misteriosa dos gatos” reconquistam corpo e voz pela pena perspicaz de Pedro, um eficiente construtor de perfis. O retrato que compõe de seu pai, o inesquecível Vivaldi Moreira, presidente da AML por mais de vinte anos, não deixa dúvidas: “O escritor Vivaldi Moreira era um ser antigo por excelência. Um cervantino de quatro costados. Era Quixote e Sancho Pança, gosto de dizer sobre sua figura. Quixote na obstinação do objetivo. Sancho na servidão ao serviço público, seja por intermédio das letras ou na magistratura que exerceu. Contam os biógrafos de Cervantes que ele se agachava para pegar até papéis encontrados ao léu em andanças de rua. Vivaldi puro. Está no papel, é História”.
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