‘Poesia & Agora’, de Edimilson de Almeida Pereira
Quatro décadas separam a estreia de Edimilson de Almeida Pereira em livro (com “Dormundo”, de 1985) da coletânea ora lançada pela Mazza Edições, em dois volumes, sob o título “Poesia & Agora”. Acondicionados em belíssima caixa, e com projeto gráfico do competente Mário Vinícius, eles reúnem vinte e oito dos livros de poemas publicados pelo autor entre 85 e 2017, daí excluindo-se sua produção em versos para o público infantil e infanto-juvenil. Com posfácio da professora Carolina Anglada de Rezende, da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop), a obra ainda traz a bibliografia completa do autor, aí incluídos seus romances, vencedores de prêmios de importância nacional, e seus ensaios, com destaque para os textos etnográficos, escritos em parceria com a professora Núbia Pereira, resultantes de muitas viagens ao interior do Minas. Cito apenas alguns: “Assim se benze em Minas Gerais”, “Negras raízes mineiras: os Arturos” e “Mundo encaixado: significação da cultura popular”.
Nascido em 1963 na zona “semi-rural” de Juiz de Fora, como ele mesmo define, o poeta ingressou no curso de graduação em Letras da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) aos vinte anos, na mesma ocasião em que começou a militar no movimento negro e a participar do movimento literário ‘Abre-alas’, que agregava gente do jornalismo, das artes visuais e da música. São de sua geração nomes como Luiz Ruffato, Iacyr Anderson Freitas, Fernando Fábio Fiorese Furtado e Júlio Cesar Polidoro. Professor, desde 92, de Literatura Brasileira e Portuguesa da universidade em que se formou, Edimilson fez mestrado e doutorado pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e concluiu seus estudos pós doutorais na Universidade de Zurique, na Suiça. Sua vida acadêmica, no entanto, nunca o afastou da produção literária.
Entre os temas recorrentes de sua poesia, o mundo das tradições afro-diaspóricas, sobretudo as do meio rural, em seus ritos, cerimônias e nas práticas cotidianas de que são compostas. Incansável artesão da palavra, engenhoso e sofisticado, Edimilson vê o trabalho poético como aquele capaz de ‘escavar o real’ e como um ofício que deve gozar de uma autonomia criativa radical, sendo muito mais um lugar de inquietação que de conforto. Seus textos, por tudo isso, não deixam de exprimir o espanto e a perplexidade com que o sujeito lírico se depara com o aviltamento da linguagem, a fragmentação do humano e a ascensão das mais diversas formas de violência que caracterizam a contemporaneidade.
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