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Sobre a obra de Dias Gomes, intérprete do Brasil

“O pagador de promessas” (1959), “Odorico, o bem-amado” (1962) e “O Santo Inquérito” (1966) são destaques em série da AML

Dedicado à obra de Dias Gomes, um dos doze episódios que compõem a série “Intérpretes do Brasil” – veiculada pelo canal da Academia Mineira de Letras no Youtube – traz excelente entrevista com a professora Elen de Medeiros, da UFMG, que analisou detidamente o legado do autor, concentrando-se, especialmente, em “O pagador de promessas” (1959), “Odorico, o bem-amado” (1962) e “O Santo Inquérito” (1966). Estudiosa do Teatro brasileiro (sobretudo de Nelson Rodrigues), Elen é mestra e doutora na matéria, com estágio de pós doutoramento na Universidade de Sorbonne – Paris 3.

Nascido em Salvador, na Bahia, em 1922, e falecido no Rio de Janeiro, em 1999, o dramaturgo escreveu a primeira peça aos 15 anos. E não parou mais. Depois de trabalhar com o mítico Procópio Ferreira, adaptou mais de quinhentas obras do teatro universal para o meio radiofônico. Mais tarde, também assinou telenovelas, consagrando-se como autor de textos inesquecíveis como “Bandeira Dois”, “O Espigão”, Saramandaia” e “Roque Santeiro” (censurada em 1975 e, finalmente, exibida em 1985). A versão de “O bem-amado” para a telinha resultou na primeira novela em cores do país, em 1973.

Na conversa, a professora Elen assinalou a formação marxista de Dias Gomes e seu firme compromisso em denunciar as desigualdades econômicas, as injustiças sociais e a máquina de opressão instalada pelo status quo contra o ser humano, seus desejos e sonhos, o que se nota sem dificuldade na história de Zé do Burro, o pagador de promessas, e de Branca Dias, alvo do “santo inquérito”, ambos vítimas de variados tipos de perversidades.

Dirigido, no cinema, por Anselmo Duarte, “O pagador de promessas” fez tremendo sucesso fora do país, conquistando a Palma de Ouro de melhor filme no prestigiado Festival de Cannes, na França, em 1960 (ele também foi o primeiro longa-metragem da América do Sul a ser indicado ao Oscar de melhor filme estrangeiro). No papel principal, o ótimo Leonardo Villar.

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Já na história protagonizada por Odorico Paraguaçu (imortalizado, na tevê, por Paulo Gracindo), Dias Gomes satiriza a cultura política brasileira, baseada em práticas e costumes antiquíssimos e até hoje muito poderosos, como o patrimonialismo, o empreguismo, o nepotismo e a corrupção – provas de que a obra do autor permanece tristemente atual…

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