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 “A vida, a morte e outros penduricalhos” – conheça o novo livro de Luís Giffoni

Em obra, Giffoni renova seu compromisso com uma literatura de qualidade

Com lançamento previsto para sábado, dia 4 de maio, a partir das 10 horas, na sede da Academia Mineira de Letras, em sessão aberta ao público, o novo livro de Luís Giffoni ganhou o curioso título de “A vida, a morte e outros penduricalhos”. Na habitual desenvoltura com que circula por gêneros literários tão distintos quanto a crônica e o romance, o autor retorna às narrativas breves em grande estilo, oferecendo aos leitores, em dezesseis contos, renovadas provas de suas habilidades técnicas, e, sobretudo, de seu vigor criativo, características que o acompanham desde sempre em sua sólida e bastante premiada carreira literária, que inclui o Jabuti, o APCA, o Bienal Nestlé, o Minas de Cultura, o Nacional de Romance, o Nacional de Contos…

Se o título do novo volume sintetiza – não sem ironia – a condição humana, a epígrafe que antecede as histórias, assinada por Robert Frost, é uma eficiente chave para compreender o que propõe o livro: “Posso resumir em três palavras o que aprendi sobre a vida: a vida continua.” Engenhosa, a frase ecoa no contato com o universo ficcional gerado pelo autor em uma dezena e meia de textos. Neles, a existência e o seu fim são faces da mesma moeda, acontecimentos tão imbricados um no outro que às vezes fica até difícil distingui-los. Há um tanto de vitalidade na morte. E vice-versa. A interrupção, no entanto, não detém a marcha da vida. Ela segue em frente, ainda que representada por outros personagens e encenada sob diferentes circunstâncias. Mestre na invenção de tipos e situações, Giffoni acaba por compor rico mosaico sobre os ‘modos de viver’ e os ‘modos de morrer’ na atualidade. Não faltam referências ao contexto social em que estão mergulhadas as metrópoles brasileiras, reféns de temíveis quadrilhas, nem às tradições que ainda vigem no interior do País, muito marcado pelo poder da religião e dos costumes.

É nos enredos dedicados aos agentes do crime organizado, entretanto, que o drama narrativo encontra o seu ápice. Em “Bala perdida”, o jovem Helinho, em seu ‘batismo de fogo’, se vê diante de terrível dilema, para finalmente comprovar o quanto matar é fácil e o quanto morrer é rápido. Essa verdade é reiterada em “O velho tem de morrer”: “O velho pensava na vida sem saber que a morte morava a um segundo de distância”. O velho não resiste, mas o seu algoz também não. Afinal, como se lê em “Ternura”, “ninguém dribla a morte tantas vezes…”

Traço presente em toda a obra, a linguagem leve, fluida e elegante com que os enredos são expostos não reduz a sua profundidade, o seu potencial crítico e reflexivo. Pelo contrário. Bem-humorado e divertido, sem ser tolo ou leviano, o livro entretém e instiga, enternece e tensiona, alegra e entristece, em movimentos de sístole e diástole, se fosse possível compor uma metáfora alinhada ao que ele anuncia, já na capa…

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Mineiro de Baependi, engenheiro que virou escritor, astrônomo que sabe ler o céu, viajante que desbrava, planeta afora, as trilhas mais desafiadoras, ocupante da cadeira de número 33 da Academia Mineira de Letras, em “A vida, a morte, e outros penduricalhos” Luís Giffoni renova seu compromisso com uma literatura de qualidade, atenta e sensível aos impasses de seu tempo, produzida com cuidado e capricho, apta a mobilizar, em múltiplas camadas, as estruturas mentais e emocionais dos leitores, como é de sua vocação.

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