Opinião

EDITORIAL

As manobras políticas, promovidas e conduzidas pelo consórcio que hoje governa o País, eram defendidas, há pouco mais de dois anos, como imposição do retorno da ética e da moralidade nos negócios públicos, propiciando avanços também no campo da gestão. A ideia central, no campo administrativo, era promover um imediato e rigoroso ajuste fiscal, impedindo a progressão do déficit num primeiro momento e promovendo o reequilíbrio na sequência. Nem que fosse preciso cortar na própria carne, dizia-se à época. É sabido que entre as intenções e a realidade a distância continua sendo bastante grande, tal e qual o problema a enfrentar. Faltou força política e parece ter faltado também vontade ou, antes, compreensão exata do que se passa e de suas possíveis consequências. Brasília não se deu conta de que o Estado brasileiro, paquidérmico, simplesmente não cabe mais nas contas, ou no orçamento, do País. E parece continuar fingindo que nada está acontecendo, chega até a anunciar e comemorar avanços, como se o déficit previsto para o próximo exercício, estimado em R$ 165 bilhões – pelo menos – fosse algo natural e suportável, apenas um incômodo a ser tocado com displicência. Desse contexto, que apenas torna mais curta a distância para o abismo, nos dão conta, para ficarmos nos exemplos mais próximos, as despesas ordenadas pela Câmara dos Deputados ao encerrar os trabalhos do primeiro semestre do ano e, agora, o anúncio de que o Supremo Tribunal Federal (STF) aprovou reajuste de 16,38% para os proventos dos ministros, que passarão a receber mensalmente R$ 39 mil, sem contar alguns outros benefícios. Chama atenção que o índice fixado corresponde a quase o dobro da inflação no período considerado e, pior, servirá de parâmetro para vencimentos da elite do serviço público. Traduzindo, uma conta anual que, nas primeiras estimativas, implicará gastos de mais R$ 1,7 bilhão ao ano. Por supérfluo, nas circunstâncias, não é preciso examinar se os altos magistrados merecem ou não o benefício. Não seria esta a discussão. Primeiro é preciso compreender o momento em que tomaram a decisão, sua conveniência e propósito, considerando que não se contentaram apenas com a reposição da inflação, máximo obtido pela maioria dos trabalhadores brasileiros que não fazem parte da legião dos treze milhões de desempregados. Da mesma forma, e a rigor por dever de ofício, deveriam ter em conta os efeitos indiretos de sua decisão, provocando reajustes em cascata. Absolutamente não se trata de saber se é justo ou injusto, pertinente ou não. Deveria ser suficiente saber que nem o contribuinte nem o Estado brasileiro têm como suportar essa carga.

Rádio Itatiaia

Ouça a rádio de Minas