Opinião

EDITORIAL | A Embrapa sob ameaça

O Brasil deve alcançar este ano a condição de maior produtor mundial de soja, superando pela primeira vez os Estados Unidos. Quebrando, a cada ano, recordes de produção e alcançando, em algumas culturas, níveis de produtividade equivalentes ou superiores aos registrados em países desenvolvidos, já figuramos entre os maiores produtores mundiais de alimentos e essa condição nos últimos anos teve impacto decisivo na composição dos superávits comerciais registrados, além de ter representado o principal impulso à economia nacional. Essa história de sucesso tem um roteiro bem conhecido, cujo marco inicial foi a criação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), no ano de 1973 e pelas mãos do então ministro da Agricultura, o mineiro Alysson Paulinelli. Foram as pesquisas e a tecnologia desenvolvidas pela empresa que possibilitaram, por exemplo, o aproveitamento de grandes extensões de terra na região do cerrado, antes consideradas impróprias para o cultivo, e hoje palco das transformações que ajudaram a fazer do Brasil uma espécie de superpotência agrícola. O mesmo fio condutor que transformou a pecuária e a avicultura, fazendo do País o maior produtor mundial de proteína animal. A partir da Embrapa foi construído um caso de sucesso, hoje de importância mundial e como tal reconhecido, principalmente pelos melhoramentos introduzidos nas tecnologias de desenvolvimento genético e de plantio. Quem conhece de perto a Embrapa teme que essa trajetória de sucesso e ampla contribuição ao desenvolvimento do País comece a ser alterada, e de maneira negativa. Os investimentos na empresa foram congelados e, na realidade, poderão ser reduzidos, sacrificando projetos em andamento e ameaçando a integridade do corpo técnico, cuja qualificação alcança os melhores padrões mundiais. Um dado que parece confirmar essa tendência aponta que hoje quase 90% da contribuição econômica da Embrapa vem de trabalhos realizados nos seus primeiros 25 anos. Hoje a Embrapa consome 70% de seus recursos com o pagamento de salários enquanto aos gastos com equipamentos de laboratórios, experiências de campo e atividades similares são destinados apenas 2%. Nessas condições, a própria estrutura física está encolhendo, com 17 unidades administrativas reduzidas a apenas seis, enquanto quatro dos 46 núcleos regionais foram fechados. É claramente uma situação de risco, sobretudo quando se percebe que espaços que estão sendo deixados vazios são rapidamente ocupados por empresas multinacionais. Uma grave ameaça, em síntese, ao Brasil que está dando certo e que tem na Embrapa o fio condutor de transformações que, pelo menos neste campo, nos aproximam do mundo desenvolvido. LEIA MAIS: WWW.DIARIODOCOMERCIO.COM.BR/AGRONEGOCIO

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