Opinião

EDITORIAL | A política sem encanto

As raposas da política mineira tiveram fama e poder, mas hoje são apenas a lembrança de espécie extinta. Famosas pela capacidade de articulação e de fazer costuras que aos demais pareceriam impossíveis, como regra traduziam uma espécie de jogo político em que os ganhos eram muito mais subjetivos que objetivos. Já na República Velha dizia-se, dos mineiros e suas raposas, que miravam sempre o Ministério da Justiça, onde então se abrigava a política, enquanto os paulistas não abriam mão do Ministério da Fazenda, sede do poder real ou, pelo menos, de sua representação mais concreta. E foi desse jogo que resultou a distância – não a geográfica evidentemente – que hoje nos separa de nossos vizinhos paulistas. E lições que não foram aprendidas, repetindo-se como monótona constância, relegando os políticos mineiros a um segundo plano, o que, evidentemente, se reflete em perdas que têm também uma dimensão econômica relevante. Nesse sentido, o tratamento que o atual presente da República reserva ao Estado, independentemente de querelas que possam existir, é sintomático. Pior ainda, não foi muito diferente quando uma mineira, ainda recentemente, ocupou a cadeira de presidente, depois de uma vitória expressiva no Estado. Dilma Rousseff que ainda jovem fez opções que a levaram a uma espécie de exílio no Rio Grande do Sul, fez sua carreira naquele Estado, de onde migrou para um posto no governo Lula e depois para o Planalto. Apeada, voltou ao Sul, acompanhando filha, genro e neto que por lá vivem. Nada a reparar, foram suas escolhas. Agora a mineira Dilma, há tanto tempo fora do Estado, parece relembrar suas origens, transformando-se, aqui, em candidata ao Senado. Mera conveniência e que muito provavelmente nem seja exatamente a sua. Mais um sinal de que as raposas políticas em Minas estão mesmo extintas, ou quase. Dirão os que pensam diferente que pesquisas já apontam a possível candidata em primeiro lugar, e com folgada distância sobre seus oponentes. Não é isso. Estamos falando de um jogo político que tem se contentado com muito pouco, que prefere os sinais de poder às consequências legítimas do poder, num jogo em que os movimentos não lembram mais o xadrez. Sem que se pretenda fazer aqui, agora, qualquer outra avaliação sobre a ex-presidente, o fato é que o seu domicílio eleitoral real, efetivo, está há um bom tempo no Rio Grande do Sul e não em Minas Gerais de onde ela saiu, muito jovem, provavelmente carregando pesados traumas. Será suficiente lembrar que, afastada da Presidência muito mais por conta de ambições que propriamente de virtudes, viajou ao Rio Grande e por lá ficou. Volta agora num movimento que não parece ser dela e que muito provavelmente faria corar as raposas da política mineira, se elas ainda existissem.

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