EDITORIAL | As incertezas que perduram
Falta decisão, falta ação e falta previsibilidade. Estes três pontos definiriam, com a objetividade possível, os sentimentos de parte ponderável dos empresários brasileiros, conforme registram os “índices de confiança” medidos e divulgados de tempos em tempos. Questões políticas que continuam pendentes de solução e afetam a gestão estariam nesse contexto, potencializado pelas incertezas que acompanham a aproximação das eleições. E tudo isso confirmado, pelos anúncios que vão se repetindo e reduzindo, sempre a menor, as previsões de crescimento para este ano e para os próximos, restando a conclusão de que a recuperação plena ainda está distante. Se são estes os humores prevalentes no ambiente empresarial, na alta administração federal os sentimentos são diferentes, conforme sugerem avaliações que chegam do Ministério da Fazenda. O argumento central é de que após o “mergulho” do mês de maio, resultado direto da greve dos caminhoneiros, os números de junho já apontaram clara recuperação, acima até das expectativas. Assim, para a frente e dependendo do trabalho fiscal do governo nos próximos meses, é possível até que os números para a economia, relativos ao ano corrente e ao próximo, sejam até melhores do que se imaginava. Cuidadoso em evitar que suas considerações sejam interpretadas como combustível para a campanha eleitoral, o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Fábio Kanczuk, aponta o aumento do consumo de papel e papelão, o crescimento da demanda de energia elétrica e o desempenho da indústria automotiva, como alguns dos melhores sinais de que a recuperação está acontecendo. Mas o secretário não se furta a enxergar sombras e, para ele, elas vêm de fora também. São incertezas ditadas por mudanças nas políticas comerciais dos Estados Unidos e da China, que já teriam provocado aperto nas condições financeiras globais. Sinais também a considerar apontam para a elevação dos juros patrocinada pelo Federal Reserve e as consequentes mudanças cambiais, mesmo que estas num primeiro momento possam favorecer as exportações brasileiras. Para resumir e concluir, tudo isso significa que o clima de incertezas prevalece no Brasil, favorecido tanto pelas condições internas quanto pelas externas. E dando força a um outro estudo, este da Fundação Getulio Vargas (FGV), apontando que o País levará quatro anos para voltar ao mesmo nível do Produto Interno Bruto (PIB) registrado em 2014, o que por suas contas só acontecerá no ano de 2020. Cabe esperar, mas cabe sobretudo trabalhar para que o otimismo acabe triunfando sobre o pessimismo.
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