EDITORIAL | Bomba no colo do governador

O governador Romeu Zema, quando anunciou reajuste de até 42%, que seria pago escalonadamente à área de segurança, armou uma bomba que agora ameaça estourar no seu colo.
O governador mineiro, empresário bem-sucedido e íntegro, mas nada acostumado às lides públicas, aparentemente curvou-se às pressões dos principais interessados na tal recomposição, gente literalmente com poder de fogo, e anunciou o reajuste, surpreendendo secretários e deputados. Começaram nesse momento seus, até aqui, maiores infortúnios.
O restante do funcionalismo, professores especialmente, não aceitou a decisão e intensificaram as pressões, enquanto o fogo amigo também bombardeava o Palácio da Liberdade.
De Brasília vieram advertências e ameaças. Mantida a decisão, estariam automaticamente suspensas a renegociação da dívida do Estado, enquanto o Supremo Tribunal Federal (STF) advertia que não teria mais condições de sustentar a liminar que manda suspender a amortização da dívida. Governadores estaduais se insurgiram com o que seria um mau exemplo
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Mas, atropelando as resistências, inclusive de dentro de seu próprio partido, o Novo, o governador sustentava sua posição, numa situação bastante agravada pela decisão da Assembleia Legislativa, ao apreciar o projeto, de estender a todo o funcionalismo o benefício. Zema teria que aprovar ou vetar, o que acabou acontecendo na última quarta-feira e com mais uma surpresa.
Ficou mantido o reajuste apenas para a área da segurança, ainda assim reduzido a 13%, que será pago imediatamente. Surpresa geral, bem evidenciada na decisão do secretário de Governo de pedir exoneração, ao mesmo tempo em que o vice-governador exprimia seu descontentamento anunciando desfiliação ao Novo, sentimentos compartilhados na base do governo na Assembleia, também descontente por não ter sido ouvida.
Para o governador, foi uma escolha difícil, mas impositiva. Os cofres do Estado estão vazios, a reação esperada não aconteceu e o cenário à frente, principalmente por conta do coronavírus, recomenda muita prudência. Resta agora esperar se os deputados derrubarão o veto de Zema e, sobretudo, como o pessoal da área de segurança reagirá à inevitável frustração.
Fato é que o empresário, reconhecido por suas qualidades, dito homem de brio e de caráter, acabou engolido pelas manhas e artimanhas da política, onde a lógica costuma ser justamente a falta de lógica, e tem agora no colo uma bomba que precisa ser desarmada antes que os estragos sejam ainda maiores.
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