Opinião

EDITORIAL | Da Tailândia aos Estados Unidos

Chamou muita atenção nas últimas semanas o caso dos garotos tailandeses, integrantes de um time de futebol que, depois de um treino e surpreendidos por uma chuva forte, se abrigaram numa gruta. Acabaram presos em consequência do aumento do volume da água represada, transformada numa barreira intransponível. Foram localizados, vivos e em condições relativamente boas, nove dias depois e casualmente. Teve início então uma corrida contra o tempo e uma mobilização que envolveu diversos países e à qual ninguém aparentemente permaneceu indiferente. A sorte daqueles meninos e de seu treinador, que deixou de se alimentar para que sobrasse um pouco mais para as crianças, foi acompanhada, momento a momento, com atenção e solidariedade no mundo inteiro. Especialistas viajaram para a Tailândia, diversos países, em especial Israel, ofereceram tecnologia e equipamentos, enquanto se discutia a melhor e mais segura forma de resgatar os meninos. A humanidade em todo os sentidos exibia a sua melhor face, assim como sua inteligência e seus recursos eram mobilizados para o bem, para o resultado final que superou as melhores expectativas. De tudo isso é preciso destacar também a liderança segura e eficiente das autoridades tailandesas, merecedoras dos maiores créditos pelo sucesso. E ao mesmo olhar para o outro lado do mundo, para os Estados Unidos, onde a política de tolerância zero com relação aos imigrantes ilegais levou a extremos a um só tempo inconcebíveis quanto ilegais. Estamos falando da detenção de crianças, milhares delas, apartadas de seus pais em condições que já foram comparados a expedientes só adotados na Alemanha nazista. É preciso ter em conta e não perder de vista que das crianças nessas condições pouco mais de cinquenta são brasileiras. Houve reação, é evidente, à atitude descabida, inclusive com fortes protestos nas cidades europeias que Donald Trump visitou recentemente. Muito pouco, no entanto, diante das proporções do que está acontecendo e ainda sem qualquer perspectiva de solução efetiva. Assusta verificar como o bem e o mal podem estar tão próximos, enquanto a solidariedade não alcança os pobres imigrantes abandonados de tudo e de todos. Pior, sem que se entenda que estas crianças e seus pais não são invasores indesejáveis, que possam ser tratados de qualquer forma. Estamos falando de gente que foi expulsa de sua terra pela pobreza, pela falta de condições mínimas de sobrevivência. Quem for capaz de entender como e porque isso aconteceu compreenderá que, como na Tailândia, soluções existem e estão ao alcance desde que exista solidariedade e colaboração no seu sentido mais verdadeiro.

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