Opinião

[EDITORIAL] Enxergar e transformar

Era prometido um Brasil novo e melhor, livre da corrupção, livre da ineficiência e de um crescente desequilíbrio fiscal. Defenestrada a presidente Dilma Rousseff, em 2016, literalmente a pátria estaria salva, livre dos abutres que consumiam seus recursos, desapareceriam os corruptos, competência e mérito voltariam ao primeiro plano na administração pública. Traduzindo, o Brasil reconquistaria a confiança do mundo, trazendo de volta investidores que garantiriam a retomada do crescimento, suportada também por um ajuste fiscal severo, com o novo presidente da República anunciando que cortaria na própria carne para reencontrar o equilíbrio. Muita conversa e nenhum resultado, dando argumentos – e votos – ao candidato que, nas eleições do ano passado, dizia-se distante da velha política, condenava a tudo e a todos, garantia que daria fim à política do troca-troca e hoje ocupa a cadeira principal no Palácio do Planalto.

Nessa terça-feira, passado o Carnaval, diz a lenda que, para os brasileiros, o calendário começa, de fato, a contar e em Brasília as conversas giram sobre o comportamento da economia, que por dois anos seguidos cresceu apenas um por cento ao ano. Comemora-se o fim da recessão, mas lamenta-se que os resultados alcançados continuam muito longe do necessário e desmontam, definitivamente, a cada vez mais duvidosa tese de que a mudança forçada de governo em 2016 abriria aos brasileiros as portas do paraíso. Remarcado este ponto, que apenas nos ensina que no poder as ambições continuam falando mais alto e não tem qualquer pudor, é preciso voltar ao presente, ao Carnaval que passou e ao ano que está começando.

Por enquanto, tristemente, mais do mesmo. O Palácio do Planalto repete que o centro de suas preocupações é a reforma da Previdência, reforçando a ideia equivocada que essas mudanças, se acontecerem de fato, seriam uma espécie de cura para todos os males. Parece chegar duro, diz e repete que é necessário cortar pelo menos um trilhão de reais em dez anos para restaurar o equilíbrio. Ao mesmo tempo, contraditoriamente, sugere que existe espaço para negociação. Pior, sem coragem para esclarecer que o verdadeiro e principal ponto de desequilíbrio está nas distorções que premiam, às vezes escandalosamente, as corporações do serviço público, que se agarram aos seus privilégios e assim como tiveram força para gerá-los, demonstram que são capazes de sustentá-los. Indo direto ao ponto, a reforma não anda, dificilmente terá o conteúdo necessário para produzir transformações sem as quais, logo adiante, o País entra em colapso.

Eis a amarga realidade que precisa ser enxergada em toda a sua extensão. Não dá mais para esperar, não dá mais para fazer de conta, o que está largamente demonstrado nos indicadores apresentados pelo IBGE e nos números do desemprego, que o presidente anterior prometera reduzir a taxas decentes.

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