[EDITORIAL] Não há como adiar o ajuste
O desajuste nas contas públicas do País, que se reproduz em quase todos os estados e municípios na respectiva escala, tem sido apontado, corretamente, como o grande problema e, portanto, o primeiro a ser enfrentado. Tem sido apresentado também como resultado da imprevidência, praticada anos a fio, gerando distorções e privilégios numa escala inaceitável, além de, verifica-se agora, insuportável. Eis a única conclusão possível quando se constata que em muitos estados a proporção é de 100 funcionários na ativa para 88 aposentados, média que Minas Gerais não está muito longe de alcançar. Evidente que não há como sustentar esta situação, posto que não existem formas atuariais capazes de sustentar desequilíbrio dessa ordem. O risco é mesmo de colapso total, num jogo em que ninguém tem salvação, aí incluídos os – poucos – beneficiários desse sistema, membros das corporações que agora lutam bravamente ainda na ilusão que ao fim e ao cabo tudo permanecerá como está, como até agora sempre aconteceu.
Falta entender também que o problema infelizmente é bem mais amplo, sendo ilusória a ideia que, na hipótese de ser equacionado o problema da Previdência, todos os demais estarão equacionados. Não é possível perder de vista que o Estado brasileiro, representado pelos políticos e pela burocracia neles incrustada, inverteu a ordem natural, obrigando os cidadãos a servi-lo compulsoriamente quando deveria ser o contrário. A máquina hipertrofiada não consome apenas salários e seus “penduricalhos”, vai muito mais longe, dona de um apetite que não conhece limites e ainda finge acreditar ser perfeitamente natural que um governador de Estado – por sinal hoje preso – considere perfeitamente natural ordenar milhares de viagens de helicóptero em direção à sua casa de praia, inclusive para transportar animais domésticos. Não há dinheiro que chegue, da mesma forma que a bem-intencionada desocupação do Palácio das Mangabeiras, residência oficial dos governadores mineiros desde JK, pode ter um valor simbólico, mas pouco adianta no mundo real das finanças devastadas.
Estamos, aqui, tomando Minas Gerais como exemplo, que o próprio governador reconhece como “quebrado”, mas na realidade estamos tentando apontar os vícios de uma máquina que se reproduz em todo o País, que custa muito caro para produzir – mal – muito pouco. Vale dizer, parece que o tempo se esgotou para o sempre prometido e nunca realizado corte “na própria carne”. Voltando a Minas Gerais, estamos simplesmente tentando alertar que o corte de despesas, anunciado recentemente em R$ 267 milhões ao ano, quase nada representa diante do tamanho do déficit que o Estado tem pela frente.
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