EDITORIAL | Olhando no rumo certo
O susto foi grande e a reação, pelo menos em tese, proporcional. Estamos falando, ainda, das consequências da greve dos caminhoneiros, que paralisou o País durante onze dias, com prejuízos que somaram bilhões de reais e levaram o governo a rever as metas de crescimento da economia para o ano. De Brasília chega a notícia de que a administração federal aposta agora num Plano Nacional de Logística, que, ambicioso, propõe que em apenas sete anos o País se livre da dependência dos caminhões, trocando-os por ferrovias, o que poderá significar uma economia de mais de cinquenta bilhões por ano a partir de 2025. O plano, evidentemente, está fora do calendário do atual governo, mas seus autores acreditam que embute argumentos suficientes para que seja endossado por quem assumir o poder em janeiro do próximo ano. A ideia central é que sejam criadas condições para que obras já em andamento recebam tratamento prioritário e, concluídas, definam mais claramente os modais do sistema logístico brasileiro, apontando seus gargalos e orientando ações capazes de desobstruí-los o mais rapidamente possível, criando um sistema integrado e complementar. O governo federal, que não dispõe de recursos para levar adiante as ideias que estão sendo apresentadas, tem pressa e acredita ser possível criar condições atraentes o bastante para viabilizar parcerias público-privadas. Para isso, já foi assinado um decreto presidencial que dá peso de lei ao plano e cria um comitê de governança que estabelecerá as prioridades. De qualquer forma, e como o relógio corre contra o atual governo, a estratégia parece ser trabalhar a partir de um modelo que forçosamente terá que ter continuidade. E se isso acontecer até o ano de 2025 a dependência do transporte rodoviário cairá dos atuais 64% de participação no volume transportado para 50%, enquanto a participação das ferrovias passaria dos atuais 18% para 31%. Embora o esforço mais imediato seja para ampliar a participação da malha ferroviária, o Plano Nacional de Logística é mais ambicioso. O ponto de partida está estabelecido, mas o objetivo final é a implantação de um sistema integrado, com espaços bem definidos para utilização das hidrovias e da navegação de cabotagem, com a consequente reforma e ampliação dos portos e investimentos – eclusas, etc. – que possibilitem a integração e a navegabilidade nas bacias hidrográficas. No papel está sendo proposto o que já deveria ter sido feito há tempos, livrando o País da dependência das rodovias e tornando possível a utilização de modais que são mais eficientes e econômicos. Falta saber se dessa vez seremos capazes de passar da teoria à prática e, mais ainda, se o Plano Nacional de Logística será tratado como um programa de Estado e não apenas de governo. É o que fará a diferença.
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