EDITORIAL | Sensação de vazio
É absolutamente espantoso que quase tudo se repita e sem que os atores principais dessa comédia grotesca tenham sequer o cuidado da sutileza. Tudo é direto, objetivo e sem disfarce. Como diriam os mais jovens, “na lata”. Evidentemente que estamos falando de política, lembrando que faltam menos de três meses para as eleições presidenciais e o quadro, nos seus aspectos mais relevantes, continua sendo de absoluta indefinição. Espera-se que até o final de semana, e por força exclusivamente do calendário impositivo, a situação esteja clareada, pelo menos no que toca ao rumo de cada um dos partidos e dos pré-candidatos mais cotados. Assusta, igualmente, que quem se anima a falar diga as mesma coisas, como se todos não tivéssemos memória, como se ninguém se lembrasse que há apenas dois anos, ou pouco mais, um discurso monocórdio falava de ética na política, de moralidade e do fim da corrupção, um novo tempo em que a ambição personalizada daria lugar à construção de um projeto estratégico, de Estado, destinado a transformar o País, livrando-o dos seus pecados e das amarras, todas elas bem conhecidas, que nos impedem de alcançar o futuro. É um passado que não está distante, mas parece remoto. Tudo foi convenientemente esquecido e, para decepção dos mais atentos, as conversas – e alianças – são absolutamente pragmáticas e giram exclusivamente em torno de interesses que não são nem mesmo disfarçados. Quem tem mais tempo na televisão, quem tem dinheiro e quem promete ser mais generoso, depois, na distribuição de cargos e de verbas. De que outra forma entender que dois candidatos, que até agora se apresentaram como representantes de pensamento e de polos opostos, estejam considerando seriamente a possibilidade de unir suas candidaturas, levando junto os adesistas de sempre? Tudo como se não tivesse acontecido nada e, para piorar, como se ninguém se desse conta, de fato, que o País, do ponto de vista administrativo e das condições econômicas, está no limite da exaustão. Como se ninguém pudesse admitir que na interinidade do atual governo e por conta das alianças que lhe deram sustentação, a situação piorou muito. E deve piorar mais, legando ao próximo governo ou a hipótese de um déficit fora de qualquer possibilidade de controle, ou a obrigação de reformas que necessariamente serão difíceis e dolorosas. Delas não existem notícias concretas, fundamentadas, mas conhecedores da matéria – e independentes – já alertaram que, mantidas as condições que se apresentam, sem redução de despesas e controle do déficit, em 2020 o País poderá chegar à condição de colapso. O quadro de postulantes estará completo, acredita-se, nos próximos dias. Aguardemos agora o que têm a dizer, sobretudo o que tem a propor, cada um dos candidatos.
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