Editorial

O abismo mais perto

Realizada em Belém, a COP30 teve muita conversa, mas apresentou poucos resultados efetivos no combate às mudanças climáticas
O abismo mais perto
Foto: Bruno Peres/Agência Brasil

Muita conversa para poucos resultados. Somando simplicidade com objetividade este será provavelmente o mais adequado resumo dos resultados da conferência do clima – a COP30 -, que acaba de ser realizada em Belém do Pará sob os auspícios da Organização das Nações Unidas (ONU). Existe algum consenso, sim, com relação ao fato de que as condições ambientais e climáticas no planeta estão se deteriorando e em ritmo mais acelerado do que se imaginava faz pouco tempo. Os riscos são reais, nem de longe estaríamos diante de uma farsa muitíssimo bem orquestrada e se o curso dos acontecimentos não for alterado a vida no planeta pode, num futuro que já não é distante, estar comprometida.

São poucos os que negam tal possibilidade, mas falta o elementar entendimento sobre o que fazer ou, antes, sobre quem, afinal, deve pagar a conta pelos estragos já consumados. Caberia entender, evidentemente, que os problemas ambientais, que já alteram fortemente temperatura, regime de chuvas e outros fatores críticos, guarda relação direta com o processo de industrialização e com a queima de combustíveis fósseis, em especial devido ao uso de veículos automotores. Caberia reconhecer também que, mais amplamente, todo o processo de destruição tão discutido em Belém pode ser debitado à conta do desenvolvimento econômico, tomado essencialmente pelo aumento da produção e do consumo.

Assim entendido, ficará igualmente claro de que lado está a culpa ou de que mãos devem vir as soluções.
É nesse ponto precisamente que a conversa ainda desanda e que as boas intenções acabam postas de lado. E as verdadeiras soluções ficam distantes precisamente porque só serão eficazes se partirem dos países desenvolvidos, industrializados e ricos. Deles vem o problema, deles deveriam vir as soluções, o que continua longe de acontecer na escala da necessidade e da urgência, pontos sobre os quais as dúvidas existentes são irrelevantes. Da mesma forma que não faz nenhum sentido tentar fazer crer que o bônus pertence aos países ricos e o ônus deve ser debitado aos pobres, ainda que a conta de algo como congelamento das atividades econômicas, do crescimento, para que surjam santuários de salvação para o planeta.

São em síntese e para concluir interesses e objetivos que não convergem, obstando soluções que assim acabam sendo adiadas enquanto muitos continuam apenas fingindo preocupação, mas descartam mudança de atitude e sacrifícios sem os quais continuaremos todos caminhando numa direção que não parece nada conveniente.

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