Editorial

Alto número de abstenções nas eleições reflete desilusão com a política

Em BH, foram 61.885 votos nulos, 46.236 em branco e, surpreendentemente, 636.752 abstenções
Alto número de abstenções nas eleições reflete desilusão com a política
Urna Eletrônica | Crédito: Tânia Rêgo/ Agência Brasil

O prefeito Fuad Noman (PSD) foi reeleito com 670.574 votos no segundo turno. O que chama mais a atenção, não apenas em Belo Horizonte, mas em todo o Brasil, é a desilusão da sociedade com a política, traduzida no altíssimo número de votos nulos e em branco e abstenções. Na capital mineira, o índice total de rejeição dos eleitores a um dos dois candidatos na disputa chegou a 744.873 votos, superando em 11% a votação do prefeito reeleito. Foram 61.885 votos nulos, 46.236 em branco e, surpreendentemente, 636.752 abstenções.

No País, a negativa dos eleitores de ir às urnas aumentou de 21,68% no primeiro turno para 29,26% no segundo. O desinteresse e indiferença da população em participar da escolha dos mandatários de suas cidades nos próximos quatro anos foram tamanhas que a Justiça Eleitoral decidiu fazer uma pesquisa para descobrir as causas das abstenções.

A ausência dos eleitores costuma realmente crescer do primeiro para o segundo turno, principalmente devido ao descontentamento de boa parte das pessoas com os dois escolhidos para concorrer no segundo escrutínio.

As razões para o desprezo do cidadão brasileiro com o seu sagrado direito ao voto são diversas. Entretanto, o baixo nível das campanhas, agravado a cada eleição, a violência e a intolerância em relação às diferenças de opinião e posicionamento político afastam cada vez mais os eleitores das urnas.

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Ao invés de projetos e propostas concretas e bem articuladas para a gestão dos municípios, em geral, os candidatos concentraram suas baterias nos ataques pessoais contra os adversários, tentando conquistar o voto por meio da desqualificação absoluta dos seus concorrentes. Muitos, inclusive, não se acanham a recorrer às famigeradas fake news, transformando os debates em arenas de gladiadores, com o nível intelectual que lembra a baixaria de programas televisivos sensacionalistas.

Os mais antigos, com certeza, têm saudade da classe política brasileira da época da redemocratização do Brasil, que divergia nas ideias e propostas quase sempre de forma mais civilizada. Era um tempo que sobravam líderes políticos qualificados. Após o fim da ditadura militar, o recém-criado PSDB tinha à sua frente Fernando Henrique Cardoso e Mário Covas. No PMDB, havia Tancredo Neves e Ulysses Guimarães. Leonel Brizola e Darcy Ribeiro, do PDT, comoviam multidões. O embrionário PT era comandado pelo sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva, que ainda não havia sido contaminado pelo jogo sujo político que impera no País. O nível das lideranças políticas atuais faz o eleitor chorar na rampa.

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