Anistia a golpistas é moeda de troca na disputa pela presidência da Câmara

Com o encerramento das eleições municipais, as atenções no Congresso Nacional se voltam para a sucessão na presidência da Câmara e do Senado no início de 2025. Com a política dominada pelo fisiologismo do Centrão e pela vergonha do orçamento secreto, uma pauta polêmica que já virou moeda de troca na disputa pela direção da Câmara.
A anistia aos mais de 200 golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) devido ao ataque terrorista à democracia, realizado em 8 de janeiro de 2023, entrou na mesa de negociações da eleição para o comando da Câmara, a ser realizada em fevereiro, com aval tanto de Jair Bolsonaro (PL) como de uma ala do PT.
Na última terça-feira (29), o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), retirou o projeto de tramitação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa, onde poderia ser aprovado nesta semana, e criou uma comissão especial para analisá-lo. A medida, que adia a tramitação do projeto, tem o objetivo de conquistar apoio dos dois maiores partidos da Câmara, os antagônicos PL e PT, a Hugo Motta (Republicanos-PB), nome que Lira escolheu para substituí-lo.
A reviravolta, de certa forma, é vista com bons olhos por opositores da anistia, pela tramitação mais demorada e até pela possibilidade de ser inviabilizada. Entretanto, o adiamento da votação na CCJ camufla articulações mais perigosas e complexas. Em visita de surpresa ao Senado, Jair Bolsonaro afirmou que a decisão de Lira foi previamente discutida com ele e com aliados e deixou nas entrelinhas a perspectiva da inclusão de uma emenda para reverter a sua inelegibilidade, abrindo o caminha para voltar a disputar a Presidência da República em 2026. É incrível como Bolsonaro tenta pegar carona em um projeto para anistiar os seus fanáticos seguidores, condenados justamente por obedecer cegamente ao mestre.
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O que está sorrateiramente em curso nos porões do Legislativo é um golpe maior do que o fatídico atentado à democracia de 8 de janeiro, quando hordas de vândalos que se diziam patriotas, fantasiados com camisas da seleção brasileira de futebol, depredaram impiedosamente as sedes dos Três Poderes em Brasília, com a conveniência de autoridades políticas e policiais. Uma grande parte da massa de manobra de articuladores de golpistas, que não aceitaram a vitória legítima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva contra Bolsonaro em 2022, está merecidamente presa, mas os seus líderes continuam impunes. Como dizia um sábio filósofo, a política é a arte do impossível!
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