Editorial

Apostas eletrônicas se transformaram em uma praga de proporções gigantescas

Mais recente revelação mostra que cinco em cada grupo de dez pessoas endividadas já fizeram pelo menos uma aposta
Apostas eletrônicas se transformaram em uma praga de proporções gigantescas
Foto: Divulgação Recovery

São claros, claríssimos, os indícios de que as apostas eletrônicas se transformaram numa espécie de praga de proporções suficientes para que seja desencadeada, e muito rapidamente, guerra aberta aos absurdos que se repetem cotidianamente. Como a revelação mais recente de que cinco em cada grupo de dez pessoas endividadas já fizeram pelo menos uma aposta e 34% delas prosseguem apostando regularmente. Conforme pesquisas, entre as razões para começar a apostar destacam-se tentativa de obter dinheiro rápido para pagar contas (29%) e busca de renda extra ( 27%). Além disso, 44% dos endividados relatam ter jogado com o objetivo de quitar alguma dívida. São informações, vale ressaltar, coletadas pela Serasa e deveriam bastar para desencadear reação proporcional à ameaça claramente perceptível.

Faz dois meses, pouco mais, pouco menos, quando foram conhecidos dados do Banco Central sobre a questão, autoridades públicas, representando as três esferas de poder, prometeram não só reagir, mas estancar a ameaça, controlando os jogos on-line de forma mais eficaz. Considerado o mal que está sendo feito, é possível afirmar que as reações, talvez apenas midiáticas, não guardaram proporção com a gravidade da questão a ser enfrentada. Tanto quanto sabido, absolutamente não produziram resultados, inclusive na obrigação elementar de bloquear e banir as plataformas irregulares. Tanto pior, o impacto inicial junto à opinião pública parece ter se diluído, tirando o assunto do foco das atenções.

Repetindo o que foi dito no início desse comentário, a gravidade do assunto, as evidências de que este é um processo que tende a escalar se não for contido, não deixa espaços para procrastinação tanto quanto indiferença ou omissão. As proporções do mal que está sendo feito, especialmente no que toca à população de baixa ou nenhuma renda, aquela que troca alimentos por apostas ou desvia recursos obtidos com a Bolsa Família, não podem ser varridas para debaixo do tapete como se fosse assunto de menor importância, a ser simplesmente apagado com o passar do tempo.

Da mesma forma que não pode passar batido a liminar do Supremo Tribunal Federal (STF), já confirmada pela maioria dos ministros, determinando ao governo federal adoção de medidas para proibir que benefícios sociais, como Bolsa Família, sejam aplicados em apostas on- line. Só no mês de setembro, conforme o Banco Central, pelo menos R$ 3 bilhões foram drenados dos benefícios sociais para apostas. Houvesse maior e verdadeiro compromisso com o interesse público e estas torneiras já teriam sido fechadas.

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