Editorial

Assalto à luz do dia: é preciso punir os responsáveis pelo golpe no INSS

Rombo já passou dos R$ 6 bilhões, e culpados precisam ser penalizados
Assalto à luz do dia: é preciso punir os responsáveis pelo golpe no INSS
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

O assalto aos aposentados, que veio à luz uma semana depois de mais uma operação da Polícia Federal, a rigor foi novidade apenas para os desinformados. Faz tempo, anos na realidade, que eram conhecidas as atividades de sindicatos que, por conta própria se declaravam representantes dos aposentados e pensionistas para assim chegarem às suas contas, delas retirando compulsoriamente uma “contribuição”. Coisa pouca, capaz de deixar de ser percebida mesmo por modestos aposentados, mas que repetida em escala industrial foi transformada num rombo que passou dos R$ 6 bilhões. Tudo à luz do dia e com aval, queiram ou não, de quem deveria tomar conta – na realidade não permitir que existisse – deste balcão de facilidades.

Desde 2016, talvez até antes, a galinha vinha enchendo o papo de grão em grão, mas com eficácia suficiente para possibilitar, conforme agora apurado, que pelo menos 97% dos descontos fossem fraudulentos. Ninguém viu, ninguém percebeu, apesar das proporções da rapinagem, sugerindo, como bem diria algum matuto mineiro, que “debaixo desse angu tem caroço”. Ou apesar de o ministro da Previdência, o senhor Carlos Lupi, ter garantido sob holofotes de câmeras da televisão que o presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, era de “sua absoluta confiança”. Deveria então, ao menos por solidariedade, tê-lo acompanhado na demissão já consumada.

Fato é que impressiona a, digamos, “porosidade” do sistema previdenciário, capaz de conviver, e sem perceber, com assalto sistemático e cotidiano, levado a cabo por anos a fio e que não provocou reações efetivas nem mesmo quando foi percebido e apontado, como em denúncias feitas na Câmara dos Deputados e mais tarde, já em 2023, pelo Tribunal de Contas da União. Teria sido fácil a partir daquele momento fechar as torneiras se tudo não tivesse sido tratado com a mais letárgica burocracia, repetindo-se apenas a velha prática de responder às denuncias com recomendação de mais “estudos”. Tudo para, simplesmente, ficar o dito pelo não dito e assim cair no esquecimento como em tantas outras ocasiões.

Prometer agora, como já se cuidou de fazer, que aposentados e pensionistas “serão ressarcidos”, mas sem dizer quando e como é muito pouco, na realidade quase nada. Fica faltando, em bom português e para a mais fácil compreensão que sejam encontrados, identificados e devidamente trancafiados quem roubou e quem permitiu que roubassem. Tanto quanto não é imaginável, aceitável, que quem assistiu tudo e se fez de cego fique de fora como se nada tivesse com o assunto.

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