Barrar quem movimenta o mercado das bets pode ser um tiro certeiro

Na ânsia de engordar o caixa da maneira mais cômoda e assim ficar mais perto, conforme prometera solenemente, do reequilíbrio das contas públicas, o governo federal cometeu o gravíssimo engano de liberar jogos e apostas por meios eletrônicos. Acabou abrindo um vespeiro do qual não será nada fácil se livrar, mesmo sabendo que apostas e jogos estão corroendo, e de forma muito rápida, os parcos recursos da população de baixa renda, o que inclui, conforme já atestou o Banco Central, até mesmo dinheiro proveniente de programas sociais como o Bolsa Família.
O absurdo dos absurdos e numa escala que foge ao controle dos mecanismos com que pode contar o governo. E tanto pior quando parece faltar energia na forma do rigor que a gravidade da situação reclama. Por exemplo, quem em sã consciência acredita que a proibição meramente formal, burocrática, de que recursos do Bolsa Família sejam desviados para apostas possa produzir qualquer efeito? Quem responde é ninguém mais ninguém menos que o presidente da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), Carlos Baigorri, chamado às pressas para atuar como bombeiro. “Do jeito que está hoje, a gente está enxugando gelo e o bloqueio é muito pouco efetivo”, disse para depois acrescentar que a baixa efetividade “vai ficar ruim para o governo todo” e sem que as tais bets, plataformas que operam ilegalmente no País, possam ser contidas. Afinal, não se pode contar, hoje, sequer com tecnologia para fiscalizar e bloquear movimentos indesejados.
Fica mais uma vez a impressão de que os verdadeiros responsáveis, aqueles que ocupam as cadeiras que estão no topo da escala do poder, estão apenas jogando para a plateia, na esperança talvez de que como tantas outras questões graves estas também acabem caindo no esquecimento.
Definitivamente não dá para esperar ou jogar com o tempo. Não, definitivamente não, quando dados já tornados públicos informam que a jogatina eletrônica se transformou numa espécie de epidemia, com repercussões no mercado de trabalho, no consumo até de alimentos e outros itens de primeira necessidade. O impulso parece ser sempre mais forte e incautos são atraídos pela perspectiva ilusória do dinheiro fácil que os ajudaria até a pagar dívidas. Além dos dados de natureza econômica já recolhidos também das áreas de saúde, chegam alertas dando conta dos estragos que estão sendo produzidos. Nada, afinal, que não pudesse ter sido previsto antecipadamente e antes que as porteiras fossem derrubadas.
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Enxugar gelo evidentemente não levará a nada, mas, como já foi dito aqui, pôr as mãos em quem recebe e quem paga, quem movimenta a dinheirama, pode ser um tiro certeiro.
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