Editorial

Brasil: o País da corrupção sem pudor

Por aqui, somente a corrupção dos outros, de quem está no campo oposto da política, parece interessar
Brasil: o País da corrupção sem pudor
Crédito: Reprodução Adobe Stock

Embora pesquisas de opinião situem a corrupção, especialmente quando envolve recursos públicos, entre as maiores preocupações dos brasileiros, a realidade não parece refletir tal sentimento. Que o digam, dentre tantos outros exemplos que poderiam ser lembrados, reações quase sempre de indiferença, pouco caso, com relação aos evidentes abusos praticados na Câmara dos Deputados e tendo como principal ingrediente as ditas “emendas parlamentares”. Abusos flagrantes, constantes, que mais recentemente o ministro Flavio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), tentou conter, mandando congelar movimentações quase sempre duvidosas. Como aquelas patrocinadas por parlamentar nordestino que, tendo seus afilhados derrotados nas eleições de outubro passado, tentou transferir para município de Santa Catarina os frutos de emendas por ele patrocinadas. E tudo tão natural, tão corriqueiro quanto um triângulo de quatro lados ou uma nota de 3 reais.

Estamos falando da corrupção mais rasteira, quase que entronizada em pequenos municípios em todo o País, especialmente os mais distantes. São interesses assumida e despudoradamente particulares ocupando espaços que deveriam ser públicos, numa rotina que, ainda mais perversamente, alcance especialmente as áreas de saúde e educação, justo as mais carentes. Mas são também escândalos perdidos no mapa e no esquecimento, aqueles que não merecem manchetes, mas que somam perdas que não podem continuar passando despercebidas. Tanto quanto, e especialmente neste particular, as ações patrocinadas pelo Supremo não cabem no crivo de “interferência indevida” ou abusos que comprometeriam, ameaçariam, o próprio sistema político e sua divisão de poderes. Bem ao contrário, cabe registrar, o que ajuda a compreender também os esforços, que não são poucos, justamente para desmoralizá-las.

No Brasil, apenas a corrupção dos outros, de quem está no campo oposto da política, parece interessar, merecendo atenção e denúncias não raro coléricas. Precisamente um jogo de aparências e da mais rasteira conveniência, que não veio, que não vem com objetivo explícito de promover a “faxina” que só é reclamada quando atende à conveniência de alguém ou de algum grupo. Fora deste espaço continua prevalecendo a barganha transformada em moeda política, fiel à tese do “é dando que se recebe”, tudo às claras e sem a mínima preocupação com disfarces. Com realismo, não mais que apenas a outra face da política.

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