O cinismo por trás da proposta de criação do ‘Dia Nacional do Preso Político’

Assim que saiu o resultado das eleições de 2022, com a vitória de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) sobre Jair Bolsonaro (PL), uma horda de fanáticos seguidores do ex-presidente se aglutinou na frente de vários quartéis para pressionar os militares a darem um novo golpe de Estado. Como “ovo da serpente”, a mobilização serviu de embrião para o ataque terrorista à democracia que culminou na depredação das sedes dos Três Poderes no fatídico 8 de janeiro de 2023. Mais de 200 golpistas que se excederam no ato insano já foram condenados pelo Supremo Tribunal Federal (STF) pelo atentado ao País e estão presos.
Depois de a tramitação do projeto para anistiar os criminosos ser adiada pela Câmara dos Deputados, como moeda de troca na sucessão do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), parlamentares bolsonaristas apostam em uma profusão de projetos de lei sobre a anistia aos condenados do 8 de janeiro para forçar o avanço da medida. Propostas apresentadas pelos aliados do ex-presidente incluem até mesmo a criação de um “Dia Nacional do Preso Político”.
Os bolsonaristas consideram os bárbaros de 8 de janeiro como meros presos políticos, assim como os que fugiram do Brasil com medo da cadeia como exilados. A suposta criação do “Dia Nacional do Preso Política” soa como grave afronta e desrespeito à memória de centenas de verdadeiros presos políticos que foram torturados e assassinados, fora os desaparecidos, durante as ditaduras do regime militar que assombrou o Brasil entre 1964 e 1985 e do Estado Novo de Getulio Vargas entre 1937 e 1945.
A Comissão Nacional da Verdade (CNV) confirmou, em seu relatório final, 434 mortes e desaparecimentos de vítimas da ditadura militar no País. Entre essas pessoas, 210 são desaparecidas.
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O período ditatorial brasileiro foi marcado por notórios abusos aos direitos humanos, perpetrados pelas forças repressivas, dentro de uma intrincada estrutura de poder que uniu órgãos dedicados à vigilância social, unidades militares, polícia civil e política. Nesse contexto, a sistematização e divulgação das denúncias sobre abusos tiveram papel crucial no desgaste do regime. Segundo as estatísticas, foram torturados 1.024 presos políticos durante a ditadura militar.
O cinismo da proposta de criar um “Dia Nacional do Preso Político” expõe uma ferida jamais cicatrizada da história do Brasil, ao colocar no mesmo patamar vândalos que atentaram contra a democracia e cidadãos que foram massacrados apenas por discordarem do regime autoritário então vigente.
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