A conversa entre os Poderes é, sim, necessária – mas que tipo de conversa?

O presidente Lula, sendo Lula, disse que seu ministro da Fazenda, Fernando Haddad, deve trocar os livros e perder algumas horas conversando com o Senado e a Câmara. Apesar da, digamos, indelicadeza contida no recado, pode ser até que o presidente da República tenha alguma razão. Faltou no entanto maiores esclarecimentos sobre a precisa natureza dessas conversas. Seria, acaso, ouvir mais e com mais atenção para colocar as demandas que chegam do Legislativo num nível de prioridade capaz de aquietar o fisiologismo? Seria esta também a intenção ao recomendar ao vice-presidente da República, Geraldo Alckmin, que seja “mais ágil”? Se for mesmo nessa direção, Lula estaria contribuindo para perpetuar uma situação que em verdade não deve ser tolerada.
De fato, e como também observou o hoje ministro da Justiça Ricardo Lewandowski, os três poderes da República precisam melhorar a interlocução, trabalhando juntos, afinados e na mesma direção. A rigor, o óbvio, ainda que algo ainda um tanto distante da realidade. Sendo assim, o que deve mesmo ser proposto é que tudo seja colocado nos seus devidos lugares e num ponto onde não haja espaço para o “é dando que se recebe”, conveniente para uns poucos e absolutamente destrutivo para o conjunto da população brasileira.
Conversar, de verdade e com bons propósitos, é algo realmente necessário, urgente, mas que vai em outra direção. Por enquanto fala-se apenas em vantagens, favores, verbas e cargos, numa escalada que parece não ter limites, tampouco ser suficiente para apaziguar. E assim continua faltando, como há pouco comentávamos nesse espaço, um outro tipo de conversa, todos juntos para discutir, definir e pôr em prática as verdadeiras demandas do Brasil, tudo aquilo que possa ser feito para que o País possa finalmente caminhar a passos largos na direção do futuro sempre adiado.
Um convite para que os políticos, todos eles, além dos demais agentes públicos que estão no entorno, entendam que não fazem parte de uma confraria de interesses singulares além de duvidosos. São ou deveriam ser na realidade intérpretes da vontade e do interesse coletivo, comprometidos com a tarefa de construir um destino melhor para nosso País. Para isso, precisamente os principais atores nesse palco se apresentaram e acabaram sendo os escolhidos. Eis a roda de conversas que interessa e que faz todo sentido, sendo tão urgente e tão necessária que justificaria até mesmo que o ministro da Fazenda abandonasse por um tempo suas leituras.
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